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Thomaz Ianelli

Abertura
22 de setembro de 2009

Horário
19 às 22h

Exposição
23 de setembro a 17 de outubro

A Paulo Darzé Galeria apresenta a exposição de Thomaz Ianelli, onde o público baiano poderá pela primeira vez ver na Bahia a mostra individual de um artista que criou uma arte lúdica e lírica de um excepcional colorismo, que a partir da cor determinou harmonias, ritmos, volumes, moldou espaços, submeteu as formas, e que no dizer de Theon Spanudi “criou um novo mundo de expressividade pictórica. E quais são as características deste seu mundo? Antes de tudo, a leveza, a fluidez, a nebulosidade amorfa. Uma maciez dos coloridos fluidos, um lirismo que raramente tem elementos de uma leve dramaticidade, um flutuar, um levitar perpétuo. Amplos espaços se diluem além das fronteiras dos quadros”.

Pintor, Thomaz Ianelli dedicou-se também ao desenho, à gravura, e esculturas (assemblages), trazendo a tona na arte brasileira uma expressividade pictórica, original por sua sofisticação e invenção criativa, transitando do figurativo a abstração informal, numa obra fluente, lírica, de grande colorido, que no dizer de Ferreira Gullar, no texto A pintura pintura de Thomaz Ianelli, diz: “Uma linguagem sem compromisso a não ser com a sua integridade de pintura. Na dialética da linguagem e da realidade – contradição dinâmica e permanente na arte de Thomaz Ianelli -, atingiu ele aquele ponto de equilíbrio em que a linguagem é suficientemente consistente para ter autonomia e suficientemente permeável para não se enrijecer e estereotipar-se. Após o mergulho no universo distante dos signos e formas arcaizantes, voltou às paisagens e aos temas externos, dando provas de sua capacidade de transmudar qualquer coisa em fala pictórica. Conforme os temas, as cores são aí também da superfície e a composição se inspira na ordem natural reestruturada: a bidimensionalidade volta a ser ambígua ainda que predominante. Mas aos poucos, outra vez a linguagem se interioriza, as cores e a fatura tornam-se meios reveladores de uma dimensão outra, tocada de nostalgia e mistério, como nos trabalhos de 1980 e seguintes. O pintor mergulha outra vez no mundo remoto das formas-signos, sem referência direta ao mundo exterior. Só que agora – como é o caso de suas obras mais recentes – esse universo enigmático já nada tem do universo kleeniano e é menos a subjetividade do pintor do que a revelação dos subterrâneos de sua própria linguagem pictórica. Como se ele nos quisesse mostrar o seu avesso”.

Em Ianelli temos uma arte que busca na cor a sua linguagem, mesmo que as figuras não desapareçam neste universo lírico, criando um novo mundo de expressividade pictórica, como afirma Paulo Herkenhoff – “um mundo de manchas, pinceladas, imprecisões, onde emergem figuras, como um exército poético de crianças, bailarinas, animais, e brinquedos que estrutura o espaço. O olhar é estimulado à busca das imagens, como exercício de conjecturas e jogo de descobertas lúdicas”.

Olívio Tavares de Araújo disse ao escrever sobre Ianelli: “Antes de tudo, sua obra me traz encantamento. Digamos que seja um arrebatamento inesperado e suave, não passional nem possessivo, mas inquestionavelmente afetivo, envolvente, convidativo, banhado numa beleza generosa. Passa próximo do êxtase, mas não tem a gravidade deste; é bem mais amigável e sorridente. Ao mesmo tempo, se olhada mais intelectual e desapaixonadamente, essa pintura me trará sempre uma espécie de prazer cívico por sua inteireza ética e estética, por seu índice elevado de acerto, pela galhardia com que enfrenta e resolve seus problemas enquanto arte, ainda mais dentro de um segmento que tantas vezes foi voluntariosamente declarado extinto. Pois não é verdade que de tempos em tempos se proclama que a pintura morreu?”.

Para Angélica de Moraes “Thomaz Ianelli é um dos pintores brasileiros que melhor soube usar a cor, daí ser chamado de colorista. Esse talento ganhou impulso definitivo a partir da metade dos anos 1980, quando intensificou a realização de aquarelas ao ar livre. A técnica da aquarela exige rapidez de percepção e uso certeiro de tonalidades suaves, obtidas com pigmentos diluídos em água. O papel não aceita retoques. A luz dessas obras vem do branco do papel, ou seja, do fundo da composição. O exercício da aquarela ofereceu lições de pintura que Thomaz transportou para as telas. Embora a tinta seja outra, o artista soube aproximá-la das propriedades da aquarela. Extraiu o óleo (para eliminar o brilho) e tornou-a muito líquida pela adição de terebintina. Acrescentou um pouco de cera para encorpar o pigmento sem dar-lhe muita espessura. Assim, essa tinta-quase-aquarela oferece transparência. Dá passagem à luz, que vem do fundo do quadro através das estrias deixadas pelo pincel. A pintura de Thomaz pertence à família artística dos abstratos informais, mesmo mantendo sutis referências à figura, no registro mais tempestuoso do expressionismo abstrato, de pinceladas energéticas e dramáticas”.

Thomaz Ianelli nasceu em São Paulo, em 1932. Faleceu na mesma cidade em 2001. Integrou o Grupo Guanabara, criado em 1958. Sua primeira exposição individual, em 1960, ganhou o Prêmio de Aquisição. Participou das Bienais de São Paulo (1961, 1965, 1967, 1975 e 1984); de Paris (1963); México (1982); de Taiwan/China (1987); Óbidos/Portugal (1990); da Trienal de Gravura de Buenos Aires (1979); do Salão Nacional de Arte Moderna no Rio de Janeiro, e de mais de 50 mostras coletivas de arte brasileira e latino-americana no Brasil, Europa, Ásia e América Latina. Entre 1960 e 2000 realizou cerca de meia centena de exposições individuais em museus e galerias de arte do Brasil, Peru, Argentina, Estados Unidos, Espanha, Portugal, França, Itália. Suas obras integram os acervos de museus de arte moderna e contemporânea de São Paulo, Rio de Janeiro, Skopie/Iugoslávia, Madri e Tóquio. Em 1961 recebeu o Prêmio Velásquez de Viagem à Espanha; em 1967e 1975, ganha o Prêmio Itamaraty, Aquisição, na IX e XIII Bienal de São Paulo; em 1992, Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de melhor individual do ano

Thomaz Ianelli é um dos pintores brasileiros que melhor soube usar a cor, daí ser chamado de colorista. Esse talento ganhou impulso definitivo a partir da metade dos anos 1980, quando intensificou a realização de aquarelas ao ar livre. A técnica da aquarela exige rapidez de percepção e uso certeiro de tonalidades suaves, obtidas com pigmentos diluídos em água. O papel não aceita retoques. A luz dessas obras vem do branco do papel, ou seja, do fundo da composição.

O exercício da aquarela ofereceu lições de pintura que Thomaz transportou para as telas. Embora a tinta seja outra, o artista soube aproximá-la das propriedades da aquarela. Extraiu o óleo (para eliminar o brilho) e tornou-a muito líquida pela adição de terebintina. Acrescentou um pouco de cera para encorpar o pigmento sem dar-lhe muita espessura. Assim, essa tinta-quase-aquarela oferece transparência. Dá passagem à luz, que vem do fundo do quadro através das estrias deixadas pelo pincel.

A pintura de Thomaz pertence à família artística dos abstratos informais, mesmo mantendo sutis referências à figura, no registro mais tempestuoso do expressionismo abstrato, de pinceladas energéticas e dramáticas. Angélica de Moraes

 

 

Por isso seus quadros, tão elaborados, guardam a espontaneidade do esboço, o equilíbrio sensível da descoberta feita aqui e agora. Reduzindo a linguagem da pintura a sua matéria primeira – a cor -, ainda que não se desligue totalmente da referência do mundo natural, busca construir com ela, e só com ela, um universo de significação lírica. Porque não deseja apelar para nenhum outro recurso, o que lhe resta é, por meio da textura, das superposições delicadas de tons, das dissonâncias cromáticas, atingir o nível de transfiguração em que a matéria alça voo: tinta sobre tela vira expressão humana.  Ferreira Gullar

Thomaz se limita a utilizar signos de seu próprio vocabulário anterior – triângulos, retângulos alongados, semicírculos – que eventualmente podem derivar de antigas imagens figurativas, mas são agora articulados sem nenhuma referência ao real. Thomaz se tornou, efetivamente, um pintor abstrato. E isso, coerentemente, por força de sua própria evolução interna, do desenvolvimento formal de sua pintura, e pela prevalência nela dos valores puramente pictóricos.

Olívio Tavares de Araújo

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