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Floriano Teixeira

Abertura
15 de março de 2013

Horário
19 às 22h

Exposição
16 de março a 13 de abril

Agora em março de 2013, Floriano Teixeira estaria fazendo 90 anos. A Paulo Darzé Galeria certa de que esta “não é uma data que possa ser passada em branco. Ainda mais sendo o branco o espaço que ele sempre preencheu com sua riqueza cromática, seu talento excepcional, sua técnica impecável, nos revelando com intensa humanidade o sertão e o mar, algo vindo do Maranhão que nasceu, em Cajapió, do Ceará que viveu, e da Bahia onde escolheu para se tornar mais baiano que muitos”, como afirma o seu galerista, inaugura no dia 15 de março, com temporada até o dia 13 de abril, uma retrospectiva de pinturas e desenhos de Floriano Teixeira. “É para ser visto e revisto. Um artista de sua importância tem de ser visto permanentemente em sua arte, e é com ela que neste momento estamos a realizar esta exposição, um momento especial para a galeria e para mim, pois tive oportunidade de privar de sua amizade, de seu convívio, e de sua arte” afirma Paulo Darzé na apresentação do livro que acompanha a exposição, contendo textos de Myriam Fraga, Jorge Amado, Mario Cravo Júnior, Carybé, Claudius Portugal e Vauluizo Bezerra, acrescentando: “Ele é indiscutivelmente um dos mestres do desenho brasileiro”.

 

Floriano Teixeira

Cearense por hábito, mas nascido num município da baixada maranhense de nome Cajapió, em 1923,dia 8 de março, que no seu dizer fica “numa região coberta por grandes pântanos, florestas, campos pastoris, rica em babaçu e folclore”. Criado em São Luís, tendo realizado seus estudos no Grupo Escolar Sotéro dos Reis, depois o Liceu Maranhense, quando em 1935 após as primeiras aulas de desenho do professor Rubens Damasceno, realiza as suas primeiras aquarelas e executa caricaturas e histórias em quadrinhos. No ano de 40, já dentro do rol dos pintores, introduzido por J. Figueredo, estuda e documenta tipos populares e cenas das docas de São Luís, conhece a obra de EI Grego, que o fascina vivamente, especialmente pelo alongamento das figuras, quando em 41 ganha o 1° prêmio do I Salão de Dezembro. O amor pela pintura torna-se irreversível. Descobre os impressionistas franceses e expressionistas alemães.

Em 1948, encarregado de fazer um levantamento e catalogação das gravuras, desenhos, e pinturas da coleção Artur Azevedo, manuseia obras de Daumier, Gavarni, Millet, entre outros e um ano depois, participa da fundação do Núcleo Eliseu Visconti, e descobre Portinari. Neste momento trava contrato com as técnicas de monotipia e da xilogravura. Mas São Luís vai um pouco além nesta história. Desta fase diz Milton Dias: “Floriano aprendeu São Luís, aprendeu e amou e pintou seus sobrados, seus azulejos, suas ruas e ruelas, a gente culta e gentil, de correto falar. Aprendeu também o mar e o transpôs nos seus óleos, luz e sombra marinhas, altos e baixos, grandezas e loucuras azuis. As imagens que trazia, casas, plantas, pessoas, paisagens sertanejas, juntou habitantes da praia, homens, mulheres, crianças, pescadores, incorporou docas e cais ao seu mundo e era esse o apurado de lembranças, de vivências, emoção, de poesia, de sofrências e amor que carregava consigo, quando aportou em Fortaleza”.

Em 1950 muda-se para o Ceará. Funda com Antônio Bandeira o grupo Independência (1952), e um ano depois pinta para a Companhia Sul América um mural cujo tema é a vida rural cearense, para em seguida criar um painel triptico para o Cartório Martins, com tema histórico, a fundação do Ceará. Em Fortaleza toma parte ativa nos movimentos artísticos, faz xilogravuras para o jornal O Democrata, e mesmo à distância, elege Braque como mestre, cria cenários para o Teatro-Escola, e em 1956 realiza suas primeiras pinturas abstratas. Mas o Ceará é mais. Lá, conhece Alice, a mesma Alice que hoje sua mulher e mãe de seus sete filhos, eles que estão presentes como tema principal quando retorna ao figurativismo. Desta época vale salientar a criação do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, em 1962, o qual foi seu primeiro diretor.

E é do Ceará, participando de uma exposição de artistas nordestinos que chega a Bahia, para em 1965 ficar definitivamente. Floriano após tantos caminhos e exposições e prêmios, e que em paralelo ao desenho, pintura e gravura, exerceu a atividade de ilustrador de livros – são suas as capas dos 12 volumes da coleção de Obras Completas de Graciliano Ramos, os desenhos de Dona Flor, A Morte e a Morte de Quincas Berro D’ Águas, Milagre dos Pássaros, O Menino Grapiúna, todos de Jorge Amado, Maria Duzá de Lindolfo Rocha, e em depoimento para a Revista Exu, da Fundação Casa de Jorge Amado, em janeiro de 88, declara estar a sua arte mais madura, mais consciente. “Não me situo em escola nenhuma – escolas são modismos e a gente observa que eles só se repetem. Eu pinto o que tenho vontade de pintar, o que sei pintar, e o que quero fazer naquele momento”.

TEXTO DE JORGE AMADO

Nasceu no Maranhão, viveu no Ceará, onde plantou raízes fundas, terminou na Bahia e aqui se transformou finalmente num artista profissional, hoje nacionalmente conhecido e proclamado. Sendo um dos maiores desenhistas brasileiros de todos os tempos, na Bahia conquistou a pintura com paciência, enorme talento e rara consciência artística. Sua obra é de comovente beleza.

Tem a sutileza do índio, o sangue indígena nas veias e na face, no sorriso entre tímido e irônico, no humor fino e agudo, na inteligência voltada para a natureza e os bichos, nos pés andejos. Não pode passar um mês parado, quer sair pelas estradas, ver gente e coisas, pleno de interesse e de ternura.

Enriqueceu a humildade baiana, engrandeceu nossa arte, deu-lhe a dimensão, o gosto do detalhe – certos quadros seus são trabalhos de um miniaturista.

Esse índio do Maranhão, esse baiano do Rio Vermelho, é um ser extremante civilizado, veio da floresta, mas por vezes dá a impressão de ter chegado da Renascença.

Patriarca, cercado de filhos, para onde vai carrega a família, a esposa e a meninada, índio não larga a prole. Não lhe bastando os filhos, inicia a fase dos netos. Modesto, sem o menor laivo de vaidade, mas com um duro orgulho de caboclo, de quem sabe o valor da arte e de quanto custa criá-la. Esse é Floriano Teixeira – pode ser visto no Rio Vermelho, nos fins das tardes, com James Amado e Jenner Augusto, em prosa e riso, Deus que os perdoe!

 

TEXTO DE CARYBÉ

Coisas dos Brasis entranhadas de poesia. São Jorge mata o dragão, meninas (as filhas) dialogando com flores ou pássaros, gentes do mato e da cidade, Lampião cheio de humildade tomando a benção de Padim Ciço. Barcas, tempestades e um gavião morto. Ele o apanhou passarinhando e ele o desenhou pena por pena. Só não comeu porque é carne ruim, fosse juriti comia. São desenhos elaboradíssimos onde o traço obedece à intenção ora dramática, ora poética da cena. Um emaranhado de linhas doces, violetas, amargas ou suaves, que obrigavam os olhos a seguir o caminho por ele desejado para parar no ponto, no acento, digamos no nó da composição. Em outros, brinca de esconder, desorienta o espectador, oculta a cena com texturas insólitas, com invenções e falsos caminhos de se perder e voltar ao ponto de partida. É um desenho rico, com algo herdado das florestas, de rendas de almofada ou da complicada simplicidade das asas dos mosquitos e cigarras.

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