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Christian Cravo

Abertura
13 de julho de 2017

Horário
19 às 22h

Exposição
14 de julho a 05 de agosto

Christian Cravo, sob o título Luz e Sombra apresenta trabalhos realizadas entre 2010 a 2016, quando percorreu a Tanzânia, o Congo, Uganda, Namíbia, Zaire, entre outros lugares, fotografando uma parte da África e dando seguimento a trabalhos que quase sempre enfocam as relações humanas e desafios estéticos, em seus retratos e paisagens, como anteriormente realizado no Haiti, na Bahia, em Mariana (Minas Gerais). Ao todos são 28 fotos sendo 13 fotos no formato 70x100cm, 11 no 110x170cm, e 4 de 160x250cm.

A mostra Luz e Sombra, iniciada em 2016, ano que o artista completou 25 anos de carreira, a APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) premiou como a melhor exposição fotográfica de 2015. A mostra foi realizada no Museu AfroBrasil, em São Paulo.

 

BIOGRAFIA

Christian Cravo é hoje um dos mais importantes nomes da fotografia contemporânea brasileira, tendo recebido os mais prestigiosos prêmios internacionais de arte, como Mother Jones International Fund for Documentary Photography, a bolsa de pesquisa da Fundação Vitae e o cobiçado prêmio da Fundação John Simon Guggenheim para sua pesquisa sobre a água e a fé. Na ocasião foi o mais jovem artista a receber o este prêmio em todo o mundo.

Seu trabalho é internacionalmente reconhecido, por meio de exposições no Museu de Arte Moderna da Bahia, no Throckmorton Fine Art em Nova Iorque, na Billedhusets Galeri em Copenhague, no Ministério da Cultura em Brasília, Instituto Tomie Ohtake e Museu Afro Brasil, ambos em São Paulo e em exposições coletivas como na Witkin Gallery em Nova Iorque, na S.F. Camera Works Gallery na Califórnia, na Bienal Foto Fest em Houston e no Palais de Tokyo em Paris. Já foi indicado para prêmios internacionais como o Paul Huff (Holanda 2007) e o Prix Pictet (Suíça/Reino Unido, 2008 e 2015).

Sua obra está registrada em publicações como “Irredentos”, em 2000, “Roma Noire, Villemétisse”, editado em Paris, pela Autrement, em 2005.  Ou ainda: “Nos Jardins do Éden”, 2010; “Exu Iluminado”, 2012; e “Christian Cravo”, 2014, pela editora Cosac Naify.

 

Além do visível, aquém do intangível por Alejandra Muñoz

O mundo, nossa percepção e a realidade são sempre mais complexos e intrincados do que parecem, sobretudo no campo das imagens e sua propensão a afinidades aleatórias, recorrências ocultas e ecos involuntários. A pintura de Fábio Magalhães se constitui nesse lugar inquietante entre o visível, reconhecível e familiar e o inefável e intangível.

Suas obras abordam temas autorreferenciais que associam metaforicamente imagens do próprio corpo, sentimentos, estados psíquicos e situações banais, buscando ressaltar condições inconcebíveis de serem retratadas senão por meio de artifícios e distorções da realidade. Seu processo técnico de concepção visual envolve recursos de performance, cenografia, fotografia e desenho. Mas é na pintura, na fartura das camadas e veladuras, onde emergem contornos de uma realidade instigante, às vezes hermética, mas sempre perturbadora. Em muitos casos, o trocadilho visual com alguns ditos populares oculta cargas subjetivas que vão além da aparência do objeto retratado.

Fábio Magalhães é coevo de uma jovem geração brasileira de pintura, vigorosa e visceral, que exprime uma capacidade do suporte além da sua materialidade fibrosa e que, em geral, concebe o próprio objeto artístico da pintura como realidade espacial incomensurável, por vezes uma pintura instalativa potente que repropõe o lugar onde se mostra. É uma geração de artistas que reposiciona a pintura figurativa, por vezes beirando a iconoclastia dos gêneros tradicionais do retrato, da natureza morta e da paisagem. Instrumentada pelo virtuosismo técnico, é uma pintura que desmonta o factual e o anedótico para revelar aspectos incômodos do cotidiano, tabus e universos psíquicos que, frequentemente, operam como um vórtice sobre o observador.

O processo e as imagens de Fábio Magalhães distendem a relação histórica do artista e seu modelo e, sincronicamente, transgridem o retrato como gênero pictórico. Enquanto o artista anula a presença física de um outro no ateliê para a construção do tema, introduz uma noção de alteridade dele próprio. A introspecção e intimidade profunda do artista consigo mesmo, num exercício performático para a definição da imagem, é a subversão do autorretrato tradicional. Uma pintura que tem um caráter quase adversativo, isto é, uma pintura que parece opor-se a si mesma, num exercício de referências conjugadas no processo cujo resultado é uma pintura que vai além da imagem que contém e fica aquém da intangibilidade do gesto do pintor.

Carne e vísceras, pele e corpo, ser. A gramática básica daquilo que somos. Vida e morte: o denominador comum da existência humana. Esses são os elementos constitutivos das séries que aqui se apresentam. O tempo linear comum, aquele regido pela circularidade das estações, das efemérides e das rotinas, é aniquilado. O instante de uma ação incerta, que parece congelado ante nossos olhos, se expande quase infinito na dimensão sem horizonte do branco imaculado da tela. Fábio Magalhães se aproxima de uma temporalidade perpétua onde não há lugar para o circunstancial, para a omnipresença cotidiana das coisas esquecíveis. É a construção de uma presença reticente do essencial invisível.

Opinião, ideologia, domínio técnico, olhar criativo. Como estúdio, a rua. Tema: o homem e seu cotidiano. São fotos de gente. Fotos com o desejo de oferecer imagens, que por seu ângulo e ponto de vista, enquadramento e expressividade da luz, capte o essencial em seus detalhes para revelar o drama das relações e do mistério dos seres humanos, transfigurando a realidade através de uma poética que modifique, diante do mundo visível, a fotografia denominada de documental, na busca do instante único — este instante que atrai e que nos é revelado em suas fotografias, o momento decisivo (um minuto depois já é uma outra coisa) da imagem na cena e no momento do homem diante da vida, e da morte.

Christian Cravo nasceu em Salvador, 1974, tendo começado a fotografar aos 13 anos, na Dinamarca, onde viveu dos 10 aos 17 anos. De volta ao Brasil, inicia um trabalho como fotógrafo profissional, efetuando pesquisa no sertão baiano. Suas fotos possuem um reconhecimento nacional e internacional, já tendo recebido prêmios como o John Simon Guggenheim Fellowship, USA, 2001; Mother Jones Photo Fund for Documentary Photography, da Fundação John Simon Guggenheim; do Museu de Arte Moderna da Bahia; e Bolsa da Fundação Vitae. Suas fotos estão publicadas nos seguintes livros; “Irredentos”, “Salvador de Bahia, Rome noire, ville métisse” e “Espiritoculto”.

1. Nas suas fotos temos alguns temas recorrentes como a água, a religião, o povo de vários países — Haiti, Índia, o continente africano e, obviamente, a Bahia. O que o levou a esta escolha temática. O que o direcionou para isto?

Sou acima de tudo um curioso, um observador e me interessa temáticas que decifram o ser humano. No meu caso preciso trabalhar em cima de uma representação iconografia. A religião e a fé, assim como a água, representa o homem de uma forma embrionária. Não fotografo a fé e nem a água, mas sim o homem.

2. Nas suas fotos há um revelar da “face oculta” através do misticismo, da dualidade vida x morte, do homem diante do mundo. Esta revelação é um dado consciente, buscado, visceral para sua arte?

Como fotógrafo busco entender o homem através de imagens que se revelam no decorrer do meu caminho. Faço da minha visão um instrumento para contar uma história que é acima de tudo “humana”. A partir de temas definidos procuro representar o homem numa estrutura iconográfica.

3. A fotografia possui uma potência visual, uma beleza gráfica e um tema, que podemos dizer, busca criar ou reproduzir a vida. Você vê estes três tempos como conflitos a serem resolvidos, ou eles existem concomitantemente para que possa exercer plenamente a sua arte?

Não há conflito nenhum. Tento alinhar a estética, que é a representação iconográfica com a vida, que é a minha curiosidade.

4. A sua fotografia é documental?

Sim. A minha e todas as outras. A fotografia é acima de tudo um registro e por sua vez também um documento. Na metade do século 20 quando a fotografia ainda estava se definindo com conceito e expressão, poderíamos categorizar seu lugar.

5. Sendo documental, vê nela também uma liberdade de criação?

Liberdade de criação é necessariamente algo não figurativo, algo abstrato ou algo que existe somente na imaginação do artista? O mundo que fotografo é real, ele existe, mas é também fruto de uma imaginação que só existe em minha mente. Saio à procura de cenas visuais que correspondam ao meu conceito filosófico.

6. Esta fotografia que registra é uma fotografia imparcial?

Alguns puritanos tentam ser imparciais. Mas eu não acredito que isso seja possível. Não “monto” uma foto. Tento usar os elementos que são jogados na minha frente, mas vale lembrar que há uma pessoa por trás da maquina e que a pureza do fato “real” é envenenada pelos nossos valores e conceitos morais.

7. Há um projeto para suas fotos?

Sim, o de estar lá fora presente num mundo cada dia mais globalizado, homogêneo e asséptico. Busco um homem que está umbilicalmente ligado á sua natureza, algo cada dia mais difícil. Atualmente estou fotografando no Haiti. Neste sentido, vejo o Haiti como a expressão máxima da essência humana. Estamos falando de uma sociedade com características muito particulares, intensamente espiritualizada, repleta de simbologias, onde a falta de pudor do povo se apresenta por meio de elementos de grande pureza. E é a pureza nas relações do homem, na manifestação do seu credo que desperta meu olhar. A amplitude filosófica que podemos traçar a partir da existência humana no Haiti é algo perturbador e incrível.

8. Fotografar é só uma questão visual, ou/e também uma questão técnica?

A técnica é importante. Pessoalmente me irrita um pouco de ver o descaso de Verger para com a técnica. Se ilude quem diz que isso não afeta a estética e o impacto.

9. Você considera fundamentais na criação de suas fotos estes dois estágios: a captação da imagem e a reprodução da imagem. Pode explicar como você os trabalha?

A imagem nasce no momento do click. Esta é a matriz, mas no laboratório se faz a imagem que será apresentada. Tecnicamente o negativo tem uma latitude que lhe permite clarear ou escurecer algumas áreas dando assim um “mood” á fotografia. Parece algo simples, mas é incrível como este ajuste pode afetar o resultado.

10. Que representa o laboratório para um fotógrafo como você?

Para mim é importantíssimo, pois me coloca num encontro profundo com a imagem. No momento de captar a imagem não se tem tempo para raciocinar a fotografia. Às vezes tudo acontece numa rapidez enorme e tudo acaba antes mesmo sem você se dar conta. O processo do laboratório exerce uma psicologia enorme, pois ele te “recolhe” para fora do mundo onde você é obrigado a estar espiritualmente ligado á fotografia, vendo ela de fato renascer para você na escuridão da câmera escura. Isso é mágico.

11. Estamos diante da fotografia digital. Qual a sua relação com ela?

Eu poderia responder em duas partes. Para a fotografia como uma representação surrealista da vida, como um conceito, ou como uma representação imaginária, não há nenhuma diferença, pois a máquina fotográfica é um mero instrumento para captar a imagem. Já no sentido da técnica há um avanço enorme.

12. A arte redime?

A arte pode redimir quem a faz, mas acredito mais na força e o impacto dela nas pessoas que a vêem. Elas estão em geral mais abertas.

 

(entrevista concedida em fevereiro de 2009 a Claudius Portugal)

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