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Alberto Pitta

Opening
17 de January de 2023

Schedule
18h

Exhibition
17 de January a 18 de February

Sorry, this entry is only available in Brazilian Portuguese.

Màriwó – A ancestralidade contemporânea de Alberto Pitta

 

“Ogun a jo é Màriwó
Akóró a jo é Màriwó…”

 

O màriwó, também chamado igi opé, é a folha do dendezeiro, árvore sagrada do candomblé, consagrada para o orixá Ogun. Cada ramo é cuidadosamente desfiado e pendurado em portas e janelas de terreiros e casas de santos, com a função de proteger a energia desses espaços. A exposição “Màriwó” apresenta obras do artista Alberto Pitta, um filho de Ogun, que emanam a força dos orixás, cujos mistérios, entretanto, se mantém protegidos por um trompe l’oeil de grafismos e “màriwós”.

Pitta faz parte de uma geração de artistas pretos cuja produção vem sendo finalmente reconhecida e valorizada pelo sistema de arte, mesmo que de forma tardia. Afinal, são mais de quarenta anos de uma trajetória embalada pelos ritmos, formas, cores e símbolos dos cultos afro-brasileiros e do carnaval da Bahia. Filho sanguíneo da saudosa yalorixá Mãe Santinha de Oyá, sua prática artística revela e esconde segredos de seu entorno pessoal, cuja religião era sua própria moradia – o domicílio ilê – do “ogã das tintas”, como ela o chamava.

As obras de Pitta – pinturas, desenhos, tecidos, roupas, objetos e serigrafias – são testemunhos visuais de uma “ancestralidade contemporânea”. Conceitos que poderiam ser antagônicos se tornam aqui fusão de uma coisa única; expandida no espaço, a partir do encontro de tempos passados que se conformam como objetos artísticos. Referências técnicas e temáticas de uma antiguidade, preservadas e difundidas como um legado de família, e ressignificadas pelo labor poético de um artista sensível e conectado com seu tempo.

A elegância da produção Pitta é digna de reis e rainhas que naturalmente se adornam, pois são a referência de beleza daquilo que representam. Percepções que teve acesso desde criança; ritos que fizeram parte de sua infância; elementos encantados com os quais brincava. Búzios, cabaças, folhas, contas, quartinhas, gamelas, panos e ferramentas sagradas. Uma poética conectada à rigorosa estética da visualidade ritualística das “obrigações” e oferendas das religiões de matrizes africanas. Um refinamento interdisciplinar herdado e preservado por gerações, ressignificado artisticamente.

 

A contemporaneidade se dá na forma, no processo e nos resultados plásticos. Camadas estampadas no tecido-espaço-tela; de tempos aglutinados, de “ontens e hoje; do diálogo entre arte, moda e design; entre a serigrafia e a pintura; entre as culturas iorubana e brasileira (baiana). Arte e vida se entrelaçam como combustível necessário para afirmarmos verdades que foram historicamente apagadas.

A exposição “Màriwó” é um xirê visual de telas-oferendas que encantam e protegem, ao mesmo tempo que refletem e ofuscam saberes e fazeres sagrados. Uma celebração artística ao panteão dos orixás, como um rito de passagem entre o passado e o momento atual em que vive o artista. Pitta das estampas, tecidos e panos; das telas, dos carrinhos de café e instalações; dos cenários, figurinos e exposições; do carnaval, do Cortejo Afro e outros blocos afro da Bahia. Criador de uma identidade própria composta por texturas-pele que compõem uma linguagem gráfica-pictórica de grande impacto visual, que emanam uma forte carga energética. Aquele que estampou o branco sobre branco, como um “estilizado Malevich baiano”.

Pitta busca a essência daquilo que representa, e mesmo quando recorre às cores, muitas vezes desnuda a funcionalidade cromática dessas, que assumem funções energéticas, quase invisíveis. Após uma fruição mais aprofundada em suas obras, aquela que se deixa levar pela afetividade do olhar histórico, é possível encontrar a verdadeira fonte de inspiração e vida, dele e de todos nós: o axé.

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