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Lúcia Glaz

Abertura
21 de setembro de 2023

Horário
19h

Exposição
22 de setembro a 21 de outubro

A Paulo Darzé Galeria recebe “Linha em expansão”, exposição de Lúcia Glaz, aberta para visitação a partir das 19h do dia 21 de setembro.

Nascida em 1961, em Santos, litoral de São Paulo, Lúcia se descobriu pintora ainda em sua juventude, nos anos 80.

De lá pra cá, participou de diversas exposições coletivas, entre elas “Razão concreta”, SP-Arte 2017 e Pinta Miami Art Fair, e realizou algumas individuais em espaços como a Pinacoteca Benedicto Calixto e a Galeria Berenice Arvani.

As referências marcantes de sua expansão no atual trabalho tangem o minimalismo de François Morellet (1926-2016) e o construtivismo do brasileiro Milton Dacosta (1915-1988).

E nesta sua primeira exposição individual para a Paulo Darzé Galeria, Lúcia Glaz presta um tributo aos dois, porém marcando sua identidade artística em cada obra.

Ela traz a perfeição de retas e quadrados irregulares dentro de um espaço, ressaltando organicidade, dando traços de vida à tela e utilizando de cores ora terrosas, ora vibrantes.

Liberdade construtiva
Antonio Gonçalves Filho

Embora de uma outra geração, a pintura de Lúcia Glaz (1961) guarda uma proximidade com mestres de outras escolas que antecederam sua iniciação na arte nos anos 1980, sendo possível citar pelo menos dois nomes com os quais se identifica: o francês François Morellet (1926-2016), cuja obra, nos anos 1950, prefigura o minimalismo, e o construtivista brasileiro Milton Dacosta (1915-1988).

Nesta sua primeira exposição individual na Galeria Paulo Darzé, Lúcia Glaz presta um tributo a Morellet e Dacosta, exibindo uma nova série de pinturas que evocam tanto a estrutura como a figura do quadrado, marcantes na carreira do francês de 1953 em diante, como as construções com a referida figura geométrica pintada por Dacosta no mesmo período (e suas composições elaboradas entre 1957 e 1958 justificam essa comparação).

Se as primeiras estruturas de Morellet com o quadrado (1953) dividiam a superfície da tela em dezesseis partes iguais, replicando um ordenamento típico de Mondrian, as de Milton Dacosta usavam o quadrado num registro próximo das construções sintéticas de Morandi (sem a pureza formal de Mondrian). Entre os dois, Lúcia Glaz descobre uma solução que não abandona o racionalismo abstrato, mas amplia seu vocabulário.

Trata-se de uma investigação que caminha para a forma como Albers caminhou para suas pesquisas sobre a expansão da cor. Uma afinidade, mais que uma influência. Há um projeto gráfico nas pinturas desta exposição que, embora reverente à ortogonalidade, subverte essa ordem para afirmar seu compromisso com a natureza lírica do movimento da figura do quadrado, forma criada pelo homem que, aliás, quer ser perfeita.

Pintada sobre a superfície terrosa nas telas de Lúcia Glaz, essa forma, no entanto, resiste à racionalização serialista de Mondrian para sugerir um jogo lúdico com o espectador. A abstração geométrica não extermina a poesia dessa movimentação aleatória de dados que brinca com a aventura cinética de Morellet sem confrontar sua adesão à turma de Sobrino e Julio Le Parc, em 1958.

As formas de expressão de Lúcia Glaz não passam pela adesão a qualquer movimento. Antes de se integrar a métodos, ela prefere se render voluntariamente à instabilidade sugerida pela percepção física da figura do quadrado como uma entidade não física que ocupa o espaço, mais ou menos como os quadrados transformados pelas linhas de néon nas pinturas de Morellet.

São decisões subjetivas que resistem a uma execução mecânica e revelam o virtuosismo de Lúcia Glaz como renovadora da linguagem construtiva que tanto marcou a arte brasileira. Ela agrega o intimismo de Paul Klee num registro monocromático, sóbrio e próximo das coisas concretas do mundo. Um equilíbrio necessário num mundo desordenado.

 

Sobre Lúcia Glaz

Lúcia Glaz nasceu em Santos, litoral de São Paulo, no ano de 1961. Pintora desde jovem, participou de várias exposições, entre elas a coletiva Razão concreta, ao lado de pintores como Volpi, Rubem Valentim, Judith Lauand e outros, na Galeria Berenice Arvani (SP), em abril de 2016.

No ano seguinte, participou da coletiva SPart 2017 e em setembro desse mesmo ano, na Galeria Berenice Arvani, realizou exposição individual com curadoria de Pedro Mastrobuono, A beleza é metafísica na pintura de Lúcia Glaz.

Participou da Pinta Miami Art Fair em dezembro de 2017.

Em setembro de 2018, fez outra individual, desta vez no Rio de Janeiro, na Galeria Almacén Thebaldi, O diálogo da cor.

Participou da PARTE/Feira de Arte Contemporânea em 2018.

Participou da exposição coletiva Modernos eternos (Mosteiro de São Bento/SP) em agosto de 2019.

Em novembro de 2019, participou do Projeto Felicidade-Clube Hebraica.

Fez uma individual na Pinacoteca Benedicto Calixto também em novembro de 2019, A pintura como processo.

Participou da feira de arte Online Arte Viewing Room, pela Galeria Berenice Arvani, em agosto de 2020, A geometria como forma de expressão.

Participou da Expo / Sevivon-Beit-Chabat em dezembro de 2020.

 

Lúcia Glaz / entrevista a Claudius Portugal

Esta é a primeira vez que expõe na Bahia, e nesta sua mostra, com data de início no dia 21 de setembro de 2023, uma individual na Galeria Paulo Darzé, segundo Antonio Gonçalves Filho, na apresentação que do catálogo, “presta um tributo a Morellet e a Dacosta, exibindo uma nova série de pinturas que evocam tanto a estrutura como a figura do quadrado, marcantes na carreira do francês de 1953 em diante, como as construções com a referida figura geométrica pintada por Dacosta no mesmo período (e suas composições elaboradas entre 1957 e 1958 justificam essa comparação)”.

Professora de geografia, sem estudo formal nas artes visuais, para além de cursos livres, Lúcia vinha levando a pintura como diletante desde a adolescência. Sob a inspiração de sua paisagem natal, pintou marinhas quando mais jovem. Nos últimos anos, com a iminência da aposentadoria, depois de 25 anos de serviços prestados em escolas, os três filhos já adultos, passou a se dedicar mais à arte.

Lúcia Glaz nasceu em Santos/São Paulo, em 1961, e faz sua inserção em mostras no circuito de arte como pintora ao realizar sua estreia aos 55 anos, já estando há mais de uma década tendo uma atuação, com uma mostra apresentando 28 trabalhos, curadoria de Pedro Mastrobuono, que escreve o catálogo, texto com o título “A Beleza é Metafísica na Pintura de Lúcia Glaz”.

“A pintura de Lúcia é puramente íntima e emocional, em primeira instância, mas em um segundo olhar, revela-se desdobramentos de tradições neoplásticas. A complexa questão da estrutura e de sua busca nas artes plásticas, e sua ligação com o sentido metafísico da arte está na própria definição do que seja ‘metafísica’: é a estrutura da realidade universal, que desce desde o primeiro princípio, infinito e eterno, até seus inumeráveis reflexos no mundo manifestado, através de uma série de níveis ou planos de existência”.

Segundo Antonio Gonçalves Filho, no texto sobre a mostra na Paulo Darzé Galeria, “pode citar pelo menos dois nomes com os quais se identifica: o francês François Morellet (1926-2016), cuja obra, nos anos 1950, prefigura o minimalismo, e o construtivista brasileiro Milton Dacosta (1915-1988). “Há um projeto gráfico nas pinturas desta exposição que, embora reverente à ortogonalidade, subverte essa ordem para afirmar seu compromisso com a natureza lírica do movimento da figura do quadrado, forma criada pelo homem que, aliás, quer ser perfeita”.

1) Discorra especificamente sobre esta mostra na Paulo Darzé Galeria e como ela se insere na trajetória de alguém que gosta de sentir o quadro em silêncio, e que só assim consegue absorver sua vibração?

Os trabalhos da mostra propõem uma reflexão sobre a diversidade cromática e a expansão da linha, embate que resulta na construção de um trabalho que é ao mesmo tempo obra gráfica e pintura. O silêncio se faz necessário para que a vibração venha por meio da cor e movimento, como se a pintura se transformasse numa partitura. Quanto à natureza lírica da figura do quadrado, linhas retas e soltas se expandem procurando a forma, como uma dança.

2) Seguindo sua trajetória, não em ordem cronológica, mas pelo título das mostras, vamos ter “A geometria como forma de expressão”. Queria começar por ela, pois olhando a sua biografia temos “O diálogo da cor” e uma primeira mostra em “Razão concreta”, ao lado de pintores como Volpi, Rubem Valentim. Dá para discorrer sobre a escolha da geometria e do neoconcretismo como fundamentais para criação de sua obra?

A geometria é a base para realização dessas pinturas. Recorro aos princípios do Manifesto Neoconcreto para pintar com mais liberdade, sem abrir mão de um projeto subjetivo de construção da forma por meio da cor.

3) É dito em apreciações sobre sua obra que ela traz uma “plasticidade cromática, de cores profundas, que sinalizam uma terceira dimensão, e conduz o espectador à interiorização, por conseguinte, à reflexão”. Apoiada na ideia de plasticidade cromática, há a afirmação de que suas séries de pinturas remetem ao silêncio. Está de acordo com o desenrolar desta afirmação e da sua conclusão?

Acredito que por serem pinturas que sinalizam uma terceira dimensão, o olhar precisa estar atento de maneira silenciosa. Embora paradoxalmente trabalhe ouvindo música porque ela me inspira, quando observo a obra já terminada, necessito de silêncio para que a visualização faça seu papel, despertar o que provoca.

4) Nas palavras de Pedro Mastrobuono, a sua pintura é puramente íntima e emocional, em primeira instância, mas em um segundo olhar, revela-se desdobramentos de tradições neoplásticas. E acrescenta: “A complexa questão da estrutura e de sua busca nas artes plásticas, e sua ligação com o sentido metafísico da arte está na própria definição do que seja ‘metafísica’: é a estrutura da realidade universal, que desce desde o primeiro princípio, infinito e eterno, até seus inumeráveis reflexos no mundo manifestado, através de uma série de níveis ou planos de existência”. Como reage a afirmações como essa sobre sua obra?

Entre a razão e a emoção existe o equilíbrio. O comprometimento requer trabalho, energia, estudo. Ao pintar me transporto para outro plano e considero novas possibilidades de criação. Pedro Mastrobuono soube captar com sensibilidade ao ver meu primeiro trabalho na coletiva importante que foi “Razão Concreta”. Foi além de um simples olhar na tela. Ele entrou em sintonia com a obra.

5) Sua obra traz um apelo emocional da cor. Mostra em suas pinturas um desejo de explorar novos fenômenos perceptivos, considerando o potencial expressivo da cor em sua interação com a forma, a ver a pintura como objeto, e não ilusão, perseguindo uma redução purista ao restringir ao essencial suas experiências na tela. Como se dá a percepção visual e como se desenvolve a sensibilidade de ver de forma concreta as cores?

Como a percepção é imediata e anterior à racionalização, minha meta é chegar ao espectador por essa via. Tenho fascínio pelo desenvolvimento da cor, de como ela me conduz à construção da forma. A combinação da cor, da linha, do plano, tudo em harmonia. É motivador por exemplo, o azul poder ter tantos azuis.

6) As possibilidades da cor norteando forma e conteúdo para se chegar a novos tons. Com isso enfatiza qualidades formais e a bidimensionalidade do plano pictórico e nem por isso aboliu do mundo a expressão. Disto origina suas palavras de ter sobre sua relação com a herança concreta mais identificação com os neoconcretos, “mais flexíveis com relação à cor”?

Embora a herança concreta tenha sido marcante em minha pintura, sempre estive aberta a novas experiências, mas ancorada na liberdade que o uso das cores me possibilita.

7) Linhas verticais e horizontais quebram qualquer rigidez geométrica, por sua vibração cromática e o contraste das cores. “Trabalho com acrílica há 20 anos. Não escolho só uma cor e não fico programando se será uma tela azul ou vermelha. Faço junção de cores, e vão surgindo outras. Não fico muito preocupada com a forma. É esse o meu prazer, não faço rascunhos, e sim o que sinto vontade na hora. Meu instrumento de trabalho são as tintas. As cores dão a própria estrutura da tela e as linhas surgem no decorrer do processo”. Esta sua explicação continua tendo validade como um dos caminhos para percepção de sua obra?

Sim, continua. Talvez porque a própria vibração que causa, afeta a rigidez. As linhas surgem no decorrer do processo. A cor é a primeira escolha para a iniciação. A linha se expande no universo dela.

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