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Biógrafo LXXVII – DS-1265-17 2017
monotipia de piso de madeira e cimento em tecido e médium acrílico
125 x 200 cm
Museu do Recôncavo Wanderley Pinho III - DS-1361-19 2019
impressão e monotipia em tecidos colados em placa de alumínio
120 x 180 cm
S/título - DS 1009 - 10 2009/2010
monotipia de piso de madeira em tecido e médium acrílico sobre tela
130 x 294 cm
S/título DS 948 -08 2008
técnica mista
200 x 155 cm
Cidade
Rio de Janeiro
Nascimento
1955
Perfil
Pintor

Um dos artistas centrais na cena contemporânea internacional, com mostras e obras nos principais museus dos Estados Unidos e da Europa, por mostrar uma pintura repleta de experimentações, processos e técnicas, vocabulário de contexto próprio, um repertório temático que registra espaços e extrai impressões, mas essencialmente uma pintura que pelo universo das imagens e sua construção discute os aspectos intrínsecos da própria pintura nas suas significações, na afirmação de uma própria poética plástico-visual.

Daniel Senise nasceu no Rio de Janeiro, em 1955. Realizou mostras na Inglaterra, México, Espanha. No Brasil, apresentou-se nos museus Oscar Niemeyer, em Curitiba; Arte Moderna da Bahia; Arte Moderna do Rio de Janeiro; Arte do Rio Grande do Sul Aldo Malagoli, em Porto Alegre. Estreou em mostras individuais nos anos 80, integrando como aluno (e depois professor) a Escola do Parque Lage, Rio de Janeiro.

 

Sua trajetória começou nos anos 80, sua primeira individual foi em 84, na Escola de Artes Visuais do Parque Laje, no Rio de Janeiro. Este momento é colocado como da retomada pintura. Disto surge a primeira pergunta: deste marco inicial onde há ainda tinta e pincel, o que há dele no seu desenvolvimento como pintor na sua pintura hoje?

Em 1986 eu resolvi não mais deixar a marca da pincelada na tela. Achei que a marca da pincelada atrapalhava o que eu começava a definir no meu interesse em pintura. Considero que todo o desenvolvimento do que faço é relacionado à pintura.

A sua trajetória levou-o a outras significações, a experimentações de técnicas e processos. O que o motivou a percorrer este caminho e quais, se for possível, as modificações mais importantes ou significativas que você veio a realizar ou está realizando?

A experimentação de outras formas de tratar a superfície veio vinculada ao desejo de fazer uma pintura que ainda tivesse alguma relevância nos dias atuais. Eu usei como base uma das principais conquistas do modernismo: a presentificação da tela como um objeto, e não mais como uma superfície neutra, passiva. Isso decorreu em experimentações com materiais. Junto a isso, tentei reforçar uma característica da pintura, embora de pouco relevo em certos momentos do modernismo. Acredito que seja a sua base mais irredutível, que é a tematização de questões perenes, o mistério da existência etc.

Neste caminho da sua pintura, você vem realizando um vocabulário próprio e bem definido nas cores e no tratamento da superfície da pintura, como a de uma definição monocromática. O que o leva a esta escolha das cores?

A cor é em geral decorrente dessas superfícies que imprimo. Embora meus trabalhos sejam sempre figurativos, a representação é sempre feita através de materiais, e não tinta. Isso impede uma representação naturalista. Ao mesmo tempo, eu prefiro representar o fragmento, o resíduo, ou o espaço não ocupado, as superfícies. Isso em geral usa uma paleta reduzida.

 Na sua pintura há um repertório temático, tais como o interior de espaços arquitetônicos, motivos religiosos, os ateliês, mas, mesmo se reconhecendo temas, como você sente a sua pintura sendo vista como uma pintura que discute em primeiro plano os aspectos intrínsecos da própria pintura?

Os motivos religiosos e alguns espaços arquitetônicos que usei, na verdade, foram composições apropriadas de outras pinturas. Eu acredito que um autor ao escolher uma linguagem para se expressar, ao mesmo tempo em que conta a sua história através dessa linguagem, deve usá-la criticamente, discuti-la, ampliar suas possibilidades.

Ainda continuando na temática, apesar de ser vista como uma pintura que discute a pintura, sua obra pode ser considerada narrativa. Através dela você conta histórias, registra espaços, extrai impressões. Como você vê que, mesmo sendo uma pintura de contexto próprio, sua obra, longe da sociologia ou arqueologia ou da psicanálise, apenas por suas imagens, ser tão plena de significações?

Como disse anteriormente não pretendo falar da pintura. Meu desejo é recuperar uma de suas funções mais claras até o modernismo, que é tratar de questões humanas. Mas de uma forma que somente possa ser feita através da pintura. Posso dizer que tento pintar uma paisagem contemporânea

Ainda continuando no tema, há no seu trabalho as figuras e objetos como representação. Um quadro, para você, é um objeto em si mesmo? Pintura é imagem?

Pintura é um objeto, pode ser mesmo um espelho, e, ao mesmo tempo, é uma janela.

 Suas telas nos passam uma composição e um equilíbrio de proporções, uma simetria, mas na sua realização sabemos que há uma ordenação de materiais, um jogo que você estabelece com os materiais, a transformação destes, os seus resíduos, a impressão na pintura. Pode-se considerar o deflagrar inicial do trabalho, nesta delimitação espacial, algo que você age diretamente, e na escolha de quais materiais para os seus vestígios?

A definição das composições está sempre em algum nível relacionada ao material que está sendo usado. A ideia é que esse material, mais ao que é representado, seja o fundamento para a leitura da obra.

 Sua obra nos deixa ver uma produção de signos visuais, uma abstração e uma representação, uma tensão do fundo versus imagem, experimentação e tradição, passado e presente. Neste contraste, é que temos uma poética, linguagem visual e visualidade de Daniel Senise?

Uma obra se constitui plenamente na cabeça do espectador. Considero importante que, enquanto falo de outras coisas não necessariamente relacionadas à estrutura da arte, estar também discutindo a linguagem, no caso, a pintura.

Para a realização desta poética, o seu processo de criação traz uma apropriação, uma representação e um imaginário, e já foi dito como uma pintura que evita a “pintura”. Como é realizado este seu trabalhar de uma poética com a tela, o campo espacial desta, as incorporações, as texturas advindas disto?

O trabalho se desenvolve em um território onde a pintura é o filtro de aproximação para se tratar das coisas da vida. Não há um processo definido. Em muitos casos, o material indica o que deverá ser feito.

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