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S/título S/data
acrílica sobre tela
200 x 250 cm
Cidade
Feira de Santana, Bahia
Nascimento
1959
Perfil
Pintor, Fotógrafo, Escultor, Artista Visual

O início de sua carreira artística é marcado pela intervenção urbana, com realização de pinturas em espaços públicos em Salvador. Atualmente, sua obra não privilegia um suporte ou técnica; trabalha com vídeo, pintura, obras tridimensionais, instalação multimídia e fotografia digital, performance. Seu trabalho tem refletido as relações entre corpo e identidade, memória e pertencimento, tornando estes alguns dos principais eixos da sua pesquisa na arte. Caetano Dias reitera o caminho de Caetano Dias – o de uma pintura essencialmente da cor sobre a cor, além do gesto, agora bem marcado, incisivo, que vibra na busca de uma arte que vai retirando da própria cor a paisagem crua da sua superfície sem acessórios, sem enfeites, num fazer cada vez mais essencial, não só pelo pleno domínio de sua técnica, mas por uma beleza instigante extraída de sua própria realidade. É uma pintura corpórea, pintura que existe pelo seu próprio ato da criação, agora realizado conjuntamente com múltiplos meios, onde inserem ou integram marcas, e com isto expõem sua atitude criativa diante do fazer e refazer, deixando que ao espectador caiba a decisão do que visualizar, desde que o seu olhar saiba ver, ou entender, a construção desta linguagem. É considerado pela crítica nacional como um dos mais importantes artistas surgidos ultimamente na Bahia.

Nasceu em Feira de Santana, Bahia, em 1959. Vive e mora em Salvador, Bahia. Começou a expor individualmente a partir de 1989. Tem participado de exposições importantes representando a Bahia e o Brasil, como XVIII Festival de La Peinture (França), The Brazilian Northeast Festival Contemporary Art (Portugal), Feira Internacional de Arte (Estados Unidos). Entre individuais e coletivas realizou mostras no Brasil – Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Olinda, João Pessoa, Belém, Brasília, Feira de Santana, Recife, Santos, São Félix, Curitiba –, e no exterior – Nova York (Neuhoff Galery), Paris (Galerie Vivendi), Havana (Casa das Américas). Sua obra foi premiada no 16º Festival de Arte Contemporânea Sesc/Videobrasil (2007) com residência no Le Fresnoy, em Tourcoing, França.

Sua pintura sempre corporificou a cor, através da inserção de ranhuras e entranhas sobre o espaço da tela, formando com isto sugestão de imagens fósseis, plantas etc. Permanece a sua pintura percorrendo este caminho?

Não somente a pintura, mas em tudo mais que eu tenho produzido. O vídeo e a fotografia, de certa forma, passam por estas mesmas questões da cor e de imagens residuais; o que chama de fósseis prefiro chamar de imagens residuais, são fósseis do presente. Continuam a aparecer, sim, na pintura, mas principalmente têm aparecido em fotos, vídeos e instalações, como no caso da “Casa de Cupim”, em que transformo um cupinzeiro em um fóssil de casa humana, ou fóssil de arquitetura. Ou mesmo entregar livros importantes para a humanidade para que os cupins os reescrevam.

Outro dado da sua pintura é que ela sempre colocou a cor sobre a cor, uma superfície sem enfeites, com textura da matéria. Continua este processo?

Meu processo é absolutamente dinâmico e processual, não posso afirmar se mantenho o mesmo processo de criação. Pelo fato de ser dinâmico e de estar sempre trocando informações, meu processo sofre mudanças continuamente, numa espécie de instabilidade, que potencializa a criação. Sempre pensei, e continuo pensando, que é importante chegar ao osso das coisas para que a poesia aconteça – no osso da ideia, do tema, da cor etc. Enfim, chegar aos pontos essenciais, para que a poética possa se dar de forma mais clara, mais transparente, já que os trabalhos que tenho feito não se preocupam tanto com as questões formais, e sim questões ligadas ao conceito, mesmo que aparentemente esteja tratando da forma. É a forma através do conceito. O que faço é uma espécie de prospecção, no caso da pintura, a prospecção é da cor, criando uma espécie de pele, ou seja, um corpo sensível, onde a cor aparece como algo orgânico ou uma simulação disto. Na superposição de camadas, quando faço as ranhuras – como rasgos na pele –, estou propondo este possível corpo pictórico, que de uma certa forma sangra continuamente. Neste sentido, o que tento é chegar a uma pintura que, de certa maneira, está viva, pulsa, como se esse sangue fluísse continuamente. Então, a superexposição cromática ocorre como uma tentativa de uma pintura orgânica e pulsante.

Ainda na cor, sua pintura possui tons suaves, ocres, beges, até os vermelhos. Segue este procedimento? O que o levou a ter uma identificação com estes tons e estas cores?

Não sei dizer exatamente por que, mas, no início, a pintura era bastante colorida e pode ser que um dia volte a ser. Sempre tive interesse pelas obras monocrômicas – ou quase. Por outro lado, me recordo da minha vivência de infância no Lapão, nas plantações de milho e de algodão, campos imensos e monocrômicos. Ou nos depósitos onde ficam guardadas as colheitas, aquelas “piscinas” enormes. Eu subia no último fardo e observava este imenso acúmulo de material orgânico como se fosse pintura, no caso do algodão, e de vez em quando eu mergulhava nele, literalmente. Também, em lembranças mais recentes, de quando eu trabalhei em uma fábrica de cobre, os tons e cores que vi se fazem presentes até hoje. Lembro-me agora das caldeiras de cobre derretido jorrando e sendo jogado nas formas, como se fosse um rio de fogo. Acho que o artista é uma espécie de colecionador de imagens e sentidos, de coisas que vão sendo acumuladas ao longo da vida, criando uma espécie de vocabulário, e em última instância serve para construir a gramática que é a obra, enquanto composição de um ideário, ou mesmo a tentativa de construir uma nova forma de ver, sentir e falar das coisas do mundo. Em um recorte pessoal, onde eu apresento minhas coisas com este vocabulário, através de uma possível língua, é uma tentativa de falar das coisas do mundo de forma diferente. Nesta medida, a obra fala de seu recordar pessoal e do que vive no presente – e insisto que trabalho nas coisas do presente, pois é também uma obra que se interessa pela vida numa relação orgânica, direta, para tentar falar das coisas que nos rodeiam, para tentar compreender este enigma que é a vida.

Você considera a sua pintura uma abstração livre?

Certamente é uma abstração livre. Mas creio que estas denominações enclausuram os processos criativos do artista. Quanto à liberdade de leituras pelo público, eu acho que não é importante ficar enquadrando a obra desta ou daquela forma. No processo histórico, talvez isto ajude a classificar a obra do artista por fase, por momento, ou o que quer que seja. Para mim, agora, não acho que seja importante estar pensando nisto. Tanto que me sinto completamente livre para fazer o que a arte me pede.

Há uma luz interna que vem das cores e da composição. Como vê esta luz na sua pintura?

A luz na cor é fundamental, e de certa forma estou sempre buscando a luz que valorize, no caso da pintura, a vibração da cor. No caso das monocrômicas, a luz é fundamental, pois ela cria a vibração cromática e ajuda na construção de um clima para passar as ideias que eu filtro através da pintura.

A origem de sua pintura reside na própria pintura?

Reside no interesse pela arte como um todo, e acho que não posso falar de minha obra somente pela pintura, já que ela é complexa e diversa, e, daí eu tenho que falar das fotografias, dos objetos de açúcar ou mesmo falar dos vídeos. Nas formas também estão presentes a mesma luz existente na pintura. A minha obra reside sob a luz da minha relação com a arte e com a vida.

(entrevista / dezembro de 2007)

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