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Attachées - 3106 - Políptico
Fotografia
160 x 240 cm
2007/2008
Rouault - Tríptico
Fotografia
85 x 255 cm
2012
Roma Yeronimus - Tríptico
Fotografia
85 x 255 cm
2012
Labaredas - Díptico
Fotografia
80 x 160 cm
1992/2003
Cidade
Las Palmas de Gran Canaria, Espanha
Nascimento
1946
Perfil
Pintor, Fotógrafo

Fotógrafo, pintor, Miguel Rio Branco nasceu em 1946. Filho de diplomata, passou a infância e a adolescência entre Espanha, Portugal, Brasil, Suíça e Estados Unidos. Em 1966, estudou no New York Institute of Photography e em 1968 na Escola Superior de Desenho Industrial do Rio de Janeiro. Sua carreira profissional iniciou-se em 1964, com uma exposição de pintura, em Berna, Suíça. Realizou mostras em galerias e instituições de várias cidades, como Madri, Barcelona e Bilbao, na Espanha; Nova York, San Diego, Houston, Tampa, Boston, Connecticut, nos Estados Unidos; Buenos Aires, na Argentina; Veneza, na Itália; Berlim, Colônia, Frankfurt, Sttutgart, na Alemanha; Paris, na França; Londres, Liverpool, na Inglaterra; Rotterdam, na Holanda; Tóquio, no Japão. Vários livros registram seu trabalho e entre as premiações estão: o Grande Prêmio da I Trienal de Fotografia do MAM de São Paulo (1980); o Prix Kodak de la Critique Photographique, Paris (1982); Bolsa de Artes da Fundação Vitae, em 1994; e Prêmio Nacional de Fotografia da Fundação Nacional de Arte – Funarte, em 1995. Sua obra figura entre as principais coleções de arte, dentre as quais a de Gilberto Chateaubriand, no Rio de Janeiro; o Stedjelik Museum, Amsterdam; o Museum of Photographic Arts, San Diego; e a de David Rockefeller, Nova York.

Apesar de seu trabalho ser referido essencialmente como a fotografia, você também é pintor. Como sente ser dito que a fotografia é o cerne de sua arte? Ou ser mais conhecido como fotógrafo? Como é seu trânsito por estas duas áreas da arte? Como sente uma área influenciar a outra, ou isto não existe?

O meu trabalho é realmente referido, de forma meio equivocada, como fotografia. Isso porque durante vários anos o que me fazia sobreviver eram trabalhos de fotografia ou cinematografia. Comecei com desenho e pintura nos anos 60. Em 1968 parei o uso das telas e pincéis e comecei a trabalhar mais com fotografia e cinema.

Ser considerado um fotógrafo é obviamente um engano, um ledo engano. A base do meu trabalho são os processos de montagem. A foto sozinha nunca foi minha única preocupação. Sempre houve a construção feita com fotos e, em muitas vezas, com uma trilha sonora acompanhando. O audiovisual, o cinema e as instalações audiovisuais sempre formaram o todo da obra.

Todos os meus livros são feitos por mim, da mesma maneira que minhas exposições.

Hoje posso dizer que a música influencia os audiovisuais, a pintura influencia a minha fotografia e esses sistemas de montagem estão influenciando bastantes artistas jovens, que só veem a superfície do meu trabalho e não o núcleo pessoal e intransferível.

Praticamente hoje quase não fotografo. Apenas em projetos muito pontuais, que na verdade têm interesse para mim não pela foto em si, mas pela experiência de outras civilizações que me interessam, caso do Japão (Tóquio) mais especificamente nesta mostra.

Mas sendo um filho de diplomata, criado em várias culturas diferentes, o importante na minha obra é a miscigenação tanto cultural quanto estética.

A luz e a cor constituem o ponto fundamental de suas fotografias? Como você constrói esta luminosidade nos seus trabalhos?

A luz e a cor são bases de trabalho com as quais temos de nos entender e saber tirar o máximo do que nossos olhos transmitem ao nosso cérebro. O importante no meu caso é, sobretudo, as construções poéticas que faço com essas imagens de luz e cor, às vezes sem cor, em preto e branco mesmo, e, às vezes, a própria cor é monocromática. As pessoas me considerarem, como fazem, um grande colorista, é um equívoco a mais. Basta olhar a minha paleta.

Quanto aos temas, há uma diferença entre objetos e pessoas como temas para suas fotos? Quais os que possuem maior dimensão nos seus trabalhos? Nestes temas, procura uma transcendência do real?

As pessoas tinham uma importância maior até o começo dos anos 90. Em 1985, morando em Salvador, mais uma vez, com Kadi Cravo e meu filho Jerônimo, voltei a pintar com grande prazer e os bons conselhos de Mario Cravo Júnior. Mariozinho e eu já tínhamos vários pontos de sensibilidade em comum, ele mais lírico, eu mais crítico e duro muitas vezes.

Pouco depois, morando de novo no Rio, sem espaço para pintar, comecei a não ter mais prazer em fotografar as pessoas. Era como se me sentisse roubando algo deles. E só fiz poucas imagens como retratos. As questões mais perto da abstração, com um fundo simbólico, falavam das pessoas sem retratá-las. Saíam muitos pedaços de gente, e a última série onde tinha muita gente, a Academia de Boxe Santa Rosa, o que saiu melhor foram aquelas imagens que se pareciam mais com fantasmas.

Sem dúvida, conseguir uma transcendência do real, alguma imagem onde as pessoas não perguntam mais o que é ou onde foi feita, mas são sensibilizadas apenas pelo que sentem no visual apresentado sempre foi um desafio.

Não existe mais diferença entre pessoas ou coisas ou ares ou vibrações esfumaçadas.

Ligia Canongia, na apresentação do catálogo, diz que você é um artista atento ao esvaziamento de sentido e à perda de vibração das imagens, justo e paradoxalmente em um mundo em que elas proliferam em exaustão. Há uma apatia nas imagens que a fotografia vem exibindo? Sua fotografia debate uma visibilidade fotográfica nos dias atuais, ou expressa o que são estes dias atuais para a fotografia?

A apatia é algo que não me interessa para nada e nem vejo como eu poderia comentar sobre algo que é vazio. A escola alemã, por exemplo, com exceção dos Becker, que eram pessoas que registravam esculturas muito bem escolhidas, não é nada mais do que documentação industrial.

Quais foram os artistas que mais o influenciaram para a sua formação artística?

Bob Dylan, Rolling Stones, Miles Davis, Hitchcock, John Houston, Rauschemberg, Giacometti, Calder, Marcel Duchamp, Bill Brandt, com os seus céus escuros. Aliás, foi só o que me restou dele. E Mario Cravo Neto, quando o conheci em Nova York, em 71, acho. Fazia um trabalho em preto e branco que nunca mais tive o prazer de ver. E em 1979, quando fotografava o Maciel, mostrar a ele o que estava fazendo sempre foi um incentivo. E as fotos da Playboy da minha adolescência.

A fotografia vem difundindo-se enormemente nos dias atuais. Como vê esta difusão? Qual a sua opinião sobre esta invasão que a técnica – máquinas automáticas – vem produzindo? Esta expansão da técnica vem produzindo bons fotógrafos? E a apropriação da fotografia, a partir destas técnicas, por pintores? Como vê a fotografia, tendo estas circunstâncias, no Brasil e no mundo hoje?

Vejo a fotografia atual com uma noção de tédio total. Tudo parece ficar na superfície e o vazio é total. Não me traz nada. Fico voltando cada vez mais às expressões que não têm nada a ver com a fotografia. Minha grande frustração é não saber tocar nenhum instrumento. A música me parece que fica sendo aquela expressão que não se pode embromar muito tempo.

(entrevista / junho de 2010)

 

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