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Planos 2018
escultura em madeira e aço inox
156,2 x 80 x 12,8 cm
Protetor 2020
aço inoxidável e corda de polipropileno
56 x 19 x 2,5 cm
Entrelaçados 2014
escultura em aço inox e madeira
75 x 33 cm
Armadilha I 2015
escultura em madeira e aço inox
175 x 24,5 x 26 cm
Cidade
Salvador, Bahia
Nascimento
1962
Perfil
Escultor

A sua arte investiga a matéria, principalmente a madeira, obtendo neste trabalho uma escala plástica e um vocabulário espacial que nos remete visualmente a uma atmosfera de fantasia criadora aliada a um extremo rigor técnico. É uma arte que se estrutura por meio de uma origem popular no seu aspecto físico e de erudito na sua concepção de imagem, formulada por linhas curvas e sinuosas em seus volumes, objetos identificáveis pela sua forma, mas misteriosos quando diante da sua presença, objetos que se transformam em sua criação e concepção da imagem por aludir através de sua concretude o abstrato que uma dimensão poética pode conter.

Paulo Pereira nasceu em 1962 e vive em Salvador, Bahia. Vem realizando exposições individuais no Brasil desde 1986, com uma individual no Museu de Arte Moderna da Bahia, além de intensa participação em salões e bienais nacionais e internacionais. Ganhou os seguintes prêmios: 2005 – 12º Salão da Bahia, Museu de Arte Moderna, Salvador, Bahia; 2002 – IX Salão da Bahia, Museu de Arte Moderna, Salvador, Bahia; Prêmio Petrobras, Museu de Arte Moderna, Salvador, Bahia; 1998 – V Salão da Bahia, Museu de Arte Moderna, Salvador, Bahia; 1997 – Workshop 97, Brasileiros e Alemães, Museu de Arte Moderna, Salvador, Bahia; Brasil – Viagem de Estudos à Alemanha, Panorama de Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna, São Paulo, São Paulo; Viagem aos Estados Unidos; 1996 – III Salão da Bahia, Museu de Arte Moderna, Salvador, Bahia; 1995 – XXVII Festival Internacional de La Peinture Cagnes-Sur-Mer, França; 1989 – II Salão Baiano de Artes Plásticas, Museu de Arte Moderna, Salvador, Bahia; V Salão Alcy Ramalho Filho, Curitiba, Paraná. Possui obras em acervos de museus: Arte Moderna da Bahia; Arte Moderna de São Paulo; Arte Contemporânea de Feira de Santana; Arte Contemporânea de Curitiba; e na Coleção Gilberto Chateaubriand.

Nos seus trabalhos, há um encontro entre objetos do cotidiano, ou identificados como tais, e a união com uma arte contemporânea, não só para uma recriação estética, mas também por seus significados simbólicos. Como é realizado este processo entre o popular, aqui referido como a representação de algo do uso comum, transformado em maneira erudita na arte?  

Minha ideia é atrair atenção para o objeto do cotidiano, o espectador se identifica com o objeto, mas não necessariamente decifra a relação simbólica dos mesmos.

A sua arte cria e recria com imensa variedade de formas e sentidos um universo que estamos acostumados por sua função utilitária, as suas características impregnadas de elementos comuns ao nosso universo cotidiano. O que o leva a realizar esta criação que vem de algo tão íntimo ao espaço do dia-a-dia, em uma arte escultórica contemporânea?

Bem, acho que não é uma criação. Dou um novo significado, interpretação, para elas. Por serem comuns às pessoas, elas não percebem a sua simbologia.

Além de uma inteligência do fazer e um rigor preciso na sua elaboração, os seus trabalhos não percorrem o caminho da invenção puramente imaginária, mas uma linguagem “entre a inteligência do método e a clareza da forma”. Perguntas: 

a) Você renega o caminho da invenção puramente imaginária?

Acho que não. Aprendi a conceituar, dar sentido às minhas obras.

b) Dá para exemplificar o seu processo de criação? Ou criação não se explica?

Claro que criação se explica. O início é a forma, que pode levar dias ou anos, mas um dia ela se une à ideia.

c) Que estímulo, ou estímulos, deflagra a criação de suas obras? 

Bem, tudo começa com o objeto em si, ele é o ponto de partida.

d) Como é seu processo de criação? O que surge inicialmente? A forma? O material? 

A forma.

e) Seu trabalho possui um vocabulário plástico bem pessoal. Tem como defini-lo?

Ele é simbólico.

f) Vamos insistir de outra maneira: a partir de que momento você decide trabalhar determinada questão? É com este momento que surge também a definição do material, da técnica, do estilo?

Sim, é a partir do objeto que surge também a definição do material.

g) O que são a forma e a matéria como expressão na sua obra? 

Símbolo.

h) O que há da memória na criação de seu trabalho? E o que isto leva a que ela percorra este caminho poético que busca transcender o real?

A memória é a do próprio objeto, eu só amplifico seus significados. Por exemplo, um machucador. Ele tem uma memória, é um instrumento de cozinha que na mão de uma mulher é extremamente sensual.

Com que artista, ou artistas, na história ou mesmo agora, hoje em dia, você sente a sua obra dialogar? Enfim, quais são os artistas que emocionam ou que o estimulam? Quem você admira?

Joseph Beuys, Anselm Kiefer, Martin Puryear, Marcel Duchamp, Farnese de Andrade.

Para encerrar, três perguntas de caráter mais geral:

a) Como você sente as artes visuais neste momento, um momento de diversidade de ações – pintura, desenho, esculturas, fotografia, vídeo, instalações, performances, o meio digital, como veículo de criação?

Bem, com tanta diversidade e possibilidades, às vezes me sinto ultrapassado, mas sigo minha intuição. É difícil ver tantas possibilidades e não pensar no que estou fazendo.

b) Como vê o mercado para artistas contemporâneos como você? Aliás, há mercado?

Não sei dizer. O mercado de arte contemporânea é muito restrito ao eixo São Paulo e Rio, e não acho meu trabalho assim tão contemporâneo.

c) Como vê a arte agora no Brasil e, mais especificamente, na Bahia? Tem vigor? É atual? Responde aos anseios de nosso tempo?

Estamos muito bem, os artistas estão mais antenados com as coisas que estão acontecendo no mundo. Mas eu não vejo tanto vigor assim! A Bahia ainda é modernista. Sendo assim, os artistas contemporâneos estão muito à frente do que a sociedade baiana anseia.

(entrevista / abril de 2008)

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