Para o crítico italiano Guido Curto, no texto de apresentação, no livro da mostra, a obra de Mufraggi “encontra elementos nas paisagens da sua Terra, solitária, dura, cheia de vento e belíssima. Um de seus quadros mais grandiosos e emblemáticos na mostra se intitula Tarra mea e o olhar do artista se estende entre céu e mar, na direção dos horizontes distantes e indefinidos com duas grandes obras dedicadas a Viaggi impossibili e a l’Enlevement d’Europe. Mas a parte preponderante da exposição é constituída pelos quadros do ciclo Memória, 17 telas de 2014, nos quais o fundo branco é “poupado” e como uma folha cândida de papel se transforma na base sobre a qual se estendem pinceladas intensas, vibrantes, radicalmente abstratas. Abstratas no sentido etimológico de uma abstração que extrai formas essenciais da Natureza e do Genius Loci: a Córsega e o Mar Mediterrâneo. O mar tão amado por Matisse e Picasso e ainda antes berço daquelas antigas civilizações egípcias, gregas e romanas, de cujo ventre nasceu a Arte”.
“Sem nenhuma necessidade de uma introdução crítica que explique o significado e os valores de seus quadros, à primeira vista caracterizados por um abstracionismo comparável àquele do MAC, o Movimento Arte Concreta, mas que ocultam e revelam valores recônditos figurativos, naturalistas. Porque nessas pinturas, quase todas estabelecidas estruturalmente por linhas ortogonais, observamos cores mediterrâneas vívidas e quentes: ocre, amarelo, vermelho, azul, índigo, branco – esparramadas em óleo sobre tela introduzindo os cromatismos em limites nítidos como os contornos de um esmalte cloisonné. Ao analisá-las, distingue-se nelas um significado figurativo, pois aquelas pinceladas densas parecem configurar terrenos, campos, territórios vastíssimos colhidos em uma visão aérea, onde jamais faltam a água do mar e o céu azuis. Assim os limites de cada composição parecem horizontes de uma colina imaginária para além da qual se intui o Infinito.”
Começando pelo desenho e pintura no início da década de 70, Toussaint Mufraggi estuda os grandes mestres e suas obras de arte ainda em sua terra natal, a Córsega. No início, seu trabalho usa a representação figurativa de forma expressionista, tentando traduzir, através de paisagens e cenas bucólicas, os sentimentos e memórias de sua infância, acontecimentos em sua maioria na área de Villanova. Sua infância tem muita importância para ele, pois viveu lá os últimos momentos do estilo de vida agropastoril, baseado nas tradições do século 19, que o tocaram profundamente. Desse período, ele traz um gosto pela liberdade, pelo papel do mistério, dos sons, cheiros, pela comunhão entre o homem e a beleza selvagem da natureza, pela vida simples, pela ligação com os valores essenciais e com sua terra. E traduz esta sua fascinação através de pinturas coloridas, expressivas e líricas. Toussaint Mufraggi nasceu em 7 de fevereiro de 1948 em Ajaccio, Córsega, França. Sua obra está em coleções públicas e privadas internacionais – Estados Unidos, Espanha, Países Baixos, Alemanha, Itália, Suécia e Brasil. Publicou o livro Rencontre e L’Avant pays, em colaboração com J. Renucci.