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Fábio Magalhães

Opening
28 de March de 2019

Schedule
19h

Exhibition
29 de March a 26 de April

A Paulo Darzé Galeria apresenta dia 28 de março de 2019, às 19 horas, com temporada até 26 de abril, exposição de Fábio Magalhães, com o título Espectador da vida, uma série de objetos que reproduzem miniaturas de cômodos, ambientes ou espaços internos residenciais atemporais. Para a curadora da mostra Thais Darzé, “através de mensagens simbólicas, cifradas, subliminares, as emoções nesses ambientes são reveladas e vem à tona como avalanches. É justamente nesse momento de revelação, quando algo se torna visível, que o Ser no seu mais íntimo perde totalmente o controle. Magalhães tenta congelar no tempo através de seus objetos, uma realidade hermeticamente fechada e separada da vida real, criando assim um precipício intransponível”.

Artista da nova geração baiana, para a curadora Thais Darzé, no catálogo da mostra, Fábio vem criando uma obra que “transita por emoções complexas e profundas que fazem parte do cotidiano soturno da experiência humana – memórias, dores, frustrações, perdas, traumas e medos, onde o trabalho constrói narrativas ficcionais, numa obra que materializa e tornam explícitas sensações e sentimentos socialmente encobertos, aqueles que frequentemente nos torna pequenos, vulneráveis e ‘humanos’, uma inquietude agonizante de um Ser que não se conforma com a escravidão das próprias emoções, e escancara e evidencia tais emoções através de uma estética dura, sádica e angustiante, como caminho da libertação. Aquele sentimento de que algo precisa ser vivido ao extremo, o chegar ao fundo do poço, para que possa retornar a luz e a clareza de consciência. Num rasgo dos disfarces e aparências impostos pela sociedade atual em que parecer é mais importante do que ser, suas vísceras soam como um grito de socorro, um chamado para dentro, um convite para além da superfície. Num mundo de imagens tratadas, e de “stories” perfeitos, deflagra-se na sua obra a real natureza humana e as diversas camadas a serem reveladas”.

Fábio Magalhães nasceu em Tanque Novo, Bahia, em 1982. Vive e trabalha em Salvador. A maior parte da sua produção artística está voltada para a pintura, que surge de um ato fotográfico planejado. A obra de Fábio Magalhães causa fascínio e repúdio, jamais indiferença. Ela resulta de um processo de concepção e efetivação que passa pela cenografia e pela ficção até chegar ao produto final, imagens e objetos. Para o artista, suas obras são o fator delimitador entre condições psíquicas e o imaginário. Assim, o artista apresenta encenações meticulosamente planejadas, capazes de borrar os limites da percepção, configuradas em distorções da realidade e contornos perturbadores. Desse modo, seu trabalho reúne um conjunto de operações, em que sua obra ultrapassa as barreiras do Eu até encontrar o Outro, o Ser.

Em sua trajetória, Fábio Magalhães realizou exposições individuais, iniciada em 2008, na Galeria de Arte da Aliança Francesa – Salvador/BA. Em 2009, “Jogos de Significados”, na Galeria do Conselho – Salvador/BA. Em 2011, “O Grande Corpo”, Prêmio Matilde Mattos/FUNCEB, na Galeria do Conselho – Salvador/BA. Em 2013, “Retratos Íntimos” na Galeria Laura Marsiaj – Rio de Janeiro/RJ. Em 2016, “Além do visível, aquém do intangível”, no Museu de Arte da Bahia, curadoria Alejandra Muñoz, mostra também apresentada na Caixa Cultural São Paulo (2017) e Caixa Cultural Brasília (2018). Em 2019, “Espectador da vida”, na Paulo Darzé Galeria, curadoria de Thaís Darzé.

Entre as mostras coletivas: Em 2008, “XV Salão da Bahia”, Museu de Arte Moderna, Salvador/BA. Em 2009, “60º Salão de Abril” em Fortaleza/CE; e “63º Salão Paranaense” em Curitiba/PR. Em 2012 “Convite à Viagem – Rumos Artes Visuais 2011/2013”, no Itaú Cultural – São Paulo/SP, curadoria de Agnaldo Farias; “O Fio do Abismo – Rumos Artes Visuais, 2011/2013” – Belém/PA, curadoria de Gabriela Motta; “Territórios”, na Sala FUNARTE/Nordeste, Recife/PE, curadoria do Bitu Cassundé; “Espelho Refletido” no Centro Cultural Hélio Oiticica – Rio de Janeiro/RJ, curadoria do Marcus Lontra. Em 2013, “Crê em fantasmas: territórios da pintura contemporânea”, Caixa Cultural Brasília, curadoria de Marcelo Campos. Em 2017, “Contraponto”- Coleção Sérgio Carvalho, Museu Nacional de Brasília/DF. Em 2018, São Paulo, e 2019, Brasília, no Centro Cultural Banco do Brasil, curadoria de Tereza de Arruda, da exposição itinerante “50 anos do Realismo: do fotorrealismo à realidade virtual”.

Fábio Magalhães recebeu em 2010 o Prêmio Aquisição e Prêmio Júri Popular no I Salão Semear de Arte Contemporânea em Aracaju/SE; Prêmio Fundação Cultural do Estado, Vitória da Conquista/BA. Em 2011, o Prêmio FUNARTE-Arte Contemporânea/Sala Nordeste. Foi selecionado para o “Rumos Itaú Cultural 2011/2013”. Em 2015 foi indicado ao Prêmio PIPA, Museu de Arte Moderna/Rio de Janeiro.

TEXTO DO CATÁLOGO POR THAIS DARZÉ.

Espectador ou Expectador?

As duas palavras existem na língua portuguesa, porém com significados diferentes. Espectador com “s” se refere a uma pessoa que assiste passivamente aos acontecimentos. Já expectador com “x” indica alguém que está na expectativa do acontecimento de algo.

Como uma recorrente no trabalho de Fábio Magalhães antagonismos e zonas de tensão são presentes a todo instante. Creio que a indagação do título não será respondida, mas também a obra de Fábio não se propõe a respostas, ela está muito mais ligada a novos questionamentos e inquietações. Permanece a provocação e caberá ao público se colocar como espectador ou expectador diante de cada uma das obras.

A sua obra é baseada em duas tríades.

Do ponto de vista técnico, o primeiro tripé é ficção, fotografia e pintura. A ficção é a simulação do ato que em seguida é registrado através da fotografia, esta a partir daí sendo utilizada como referência, apenas um meio para chegar à pintura. Uma vez a pintura executada, tudo para trás é descartado, e a pintura sozinha compila todos os processos.

A segunda tríade é conceitual, que perpassa pelo eu, pelo corpo e pelo ser. Ao utilizar a própria imagem ou mesmo as vísceras em uma obra, essas representações do eu, perpassam e utilizam corpo como instrumento para atingir camadas obscuras do Ser.

Nossos processos mentais acontecem de forma encadeada, ou seja, nenhum pensamento, lembrança ou sentimento acontece de forma isolada. Existem elos ocultos que ligam os processos mentais a outros que ocorreram antes. Fábio busca acessar esses elos. Em suas palavras “existe a clareira da razão da consciência humana. Eu dou as costas para tudo isso e começo a tatear na escuridão. Tudo que eu encontro no meio do caminho e vou apalpando é fruto de trabalho”.

Fábio desenvolve um vocabulário imagético próprio. Através de devaneios as mensagens são cifradas e a representação da realidade por meio de símbolos compõe seu repertório. Se apropriando de “sonhos lúcidos”, o vocabulário do artista nos leva de volta a vida comum, em vez de nos libertar dela.

Em muitas conversas com o artista, o escutei repetidas vezes dizer que a sua obra era repleta de contrapontos, e que em diversos momentos de seu processo criativo ele mesmo se questionava: “Será que estou me contradizendo?”. Assim como a dicotomia entre vida onírica e vida de vigília parece de fato insolúvel, Fábio permite que sua obra se posicione nesse lugar de contradição latente, que nos liberta da realidade e nos permite um salto de consciência.

Nessa mostra “Espectador da Vida” o artista manufatura cuidadosamente uma série de objetos que reproduzem miniaturas de cômodos, ambientes ou espaços internos residenciais atemporais. Através de mensagens simbólicas, cifradas, subliminares, as emoções nesses ambientes são reveladas e vem à tona como avalanches. É justamente nesse momento de revelação, quando algo se torna visível, que o Ser no seu mais íntimo perde totalmente o controle.  Magalhães tenta congelar no tempo através de seus objetos, uma realidade hermeticamente fechada e separada da vida real, criando assim um precipício intransponível.

Ao contrário de suas pinturas em grande escala, que obriga o público a se distanciar para contemplá-las, com a necessidade de sair de cena para observar a arena, nessa série de objetos, o convite ao espectador é de aproximação. As miniaturas são um chamado para perceber cada detalhe, e essa série possui marcas espaciais definidas, apesar da ausência de vestígios de temporalidade ainda permanecendo.

Em “A Poeira Amarela Que Pairou Sobre Àquelas Horas” nos confrontamos com verdades invasivas, que chegam ao ambiente e deflagram realidades tão duras que desbotam a cor por onde passa. A nossa porção humana representada pelas vísceras resiste em se encontrar com esses duros fatos e escolhe permanecer na porção intacta do ambiente.

O artista, ao mesmo tempo em que reduz o Ser a meros vestígios de vísceras, amplia essas entranhas a algo pulsante e vivo, é força vital e não porção morta do Ser. Esse é mais um dos antagonismos da obra de Fábio Magalhães. Afinal, são nesses pontos de tensão em que sua obra se sente confortável e onde prefere estar. Mais uma ironia: Como sentir conforto no ponto de tensão?

Quase todas as obras reproduzem cômodos do interior de uma casa, uma metáfora com as parte mais íntima do Ser. Nossa casa é ponto central da existência, o nosso abrigo, nosso refúgio, e onde guardamos boa parte de nós. É o lugar de onde partimos e para onde regressamos. É uma metáfora da própria vida, onde nos reconectamos com nossas origens.

“Notas Sobre Ansiedade” no leva aos momentos de crise vividos por descontrole de pensamentos repetidos. Dezenas de xícaras de café espalhadas em um cômodo, e mais uma vez entranhas repousam sobre uma poltrona antiga no canto de uma sala. O Ser encontra-se em looping, estratégias de contenção do fluxo de pensamento se esgotaram. Ele agora se encontra em total descontrole e os loopings se repetem em ritmo acelerado. Absorvido pelo transe o Ser está exausto.

Os assuntos que Fábio trata em suas obras se esbarram no senso comum da natureza humana, não se tratam de experiências vividas pelo artista. É algo mais amplo, são temas ligados à existência. Emoções vividas através de experiências distintas por cada indivíduo, mas o cerne é “humano”. Em a “Natureza Das Evidências/ Mãe Dos Fatos”, abaixo de um tapete e duas cadeiras, o sangue vaza, denuncia algo que tentou ficar encoberto, e agora vem sorrateiramente à tona. Situação que grande maioria das pessoas, inconsciente, mas também de forma consciente, vivencia ao longo da vida – essa sujeira representada pelo sangue vai ficando cada vez maior, chegando ao ponto que esta se acumule mais. A verdade não mais pode ser escondida.

A exceção é a obra “Ermo”. Único momento em que saímos de casa e agora nos deparamos ficticiamente num espaço público, possivelmente uma praça. Suspenso por longas correntes, um insignificante balanço de madeira paira no espaço vazio, contendo uma “pequena porção do indivíduo em forma de carne”. Essa situação que alude ao paradoxo de se sentir sozinho em meio a uma multidão, marcas da contemporaneidade nos grandes centros urbanos. O que fazer quando a presença do outro não cessa a solidão? O que fazer em meio à multidão quando em profundo exílio? A ideia perturbadora de se ficar só, de se sentir só, invade e preenche o vazio.

Fábio transita por emoções complexas e profundas que fazem parte do cotidiano soturno da experiência humana – memórias, dores, frustrações, perdas, traumas e medos. Construindo narrativas ficcionais, sua obra materializa e tornam explícitas sensações e sentimentos socialmente encobertos, aqueles que frequentemente nos torna pequenos, vulneráveis e “humanos”.

Com uma inquietude agonizante de um Ser que não se conforma com a escravidão das próprias emoções, Magalhães escancara e evidencia tais emoções através de uma estética dura, sádica e angustiante, como caminho da libertação. Aquele sentimento de que algo precisa ser vivido ao extremo, o chegar ao fundo do poço, para que possa retornar a luz e a clareza de consciência.

Num rasgo dos disfarces e aparências impostos pela sociedade atual em que parecer é mais importante do que ser, suas vísceras soam como um grito de socorro, um chamado para dentro, um convite para além da superfície. Num mundo de imagens tratadas, e de “stories” perfeitos, deflagra-se na sua obra a real natureza humana e as diversas camadas a serem reveladas.

Caminho sem volta.

não foi colocado o via e-mail que fiz com ele.

Via e-mail com Fábio Magalhães /por Claudius Portugal

A maior parte da sua produção artística está na pintura, com a construção de uma ‘instalação’ ao ato fotográfico planejado, e disto à pintura. Neste mostra, Espectador da vida, temos uma série de objetos que reproduzem miniaturas de cômodos, ambientes ou espaços internos residenciais atemporais. Como dito no catálogo, ela resulta de um processo de concepção e efetivação que passa pela cenografia e pela ficção até chegar ao produto final, imagens e objetos. E finaliza: a obra de Fábio Magalhães causa fascínio e repúdio, jamais indiferença.

 

1)Como foi passar do bi para o tridimensional?

Meu processo criativo envolve um fluxo de mão dupla, entre o espaço real e aqueles criados para compor as obras. O que importa para mim são as conexões poéticas que estabeleço, sejam nas cenas criadas para um ato fotográfico, seja naquelas que se apresentam numa pintura, objetos, instalações ou qualquer outro meio de apresentação das minhas ideias como artista. Mesmo nesses objetos que fazem parte dessa mostra “Espectador da vida”, o pensamento pictórico está presente nas composições, materiais e conceitos que venho investigando entre arte e vida.

 

2)Conforme texto no catálogo, estes objetos apresentam encenações meticulosamente planejadas, capazes de borrar os limites da percepção, configuradas em distorções da realidade e contornos perturbadores. Como chegou a esta criação?

A citação acima é parte da minha bio nota, algo que perpassa todo o meu processo criativo até aqui. Não se trata de uma reflexão específica desta mostra. Acredito que seja importante destacar o texto apresentado por Thais Darzé, no qual encontramos reflexões sobre o conceito curatorial e conexões com o meu processo criativo. Como ela reflete no texto, “Ao contrário de suas pinturas em grande escala, que obriga o público a se distanciar para contemplá-las, com a necessidade de sair de cena para observar a arena, nessa série de objetos, o convite ao espectador é de aproximação. As miniaturas são um chamado para perceber cada detalhe, e essa série possui marcas espaciais definidas, apesar da ausência de vestígios de temporalidade ainda permanecendo”.

 

3)Neste trabalho temos reunido um conjunto de operações, em que sua obra ‘ultrapassa as barreiras do Eu até encontrar o Outro, o Ser’, conforme está dito. Que operações são estas? Pode descrevê-las?

Há uma tríade conceitual na minha obra (o Corpo – o Eu – o Ser) que se estabelece na busca pela imagem/corpo (quando me refiro à imagem-corpo trata-se dos vestígios que fazem alusão à presença humana como imagens de vísceras, imagem de um pé, imagem de uma mão, entre outros). Contudo, o Eu (identidade) que se faz presente nas pinturas é atravessado por algo até atingir o Ser. Essa “imagem/corpo” é uma espécie de avatar para o Outro, por mais que parta de condições de um universo particular, sempre esbarro no senso comum da Natureza Humana. Assim também, como nos objetos criados para esta mostra.

 

 

4)Como vê e se vê nesta travessia entre a pintura e o objeto?

Grande parte do meu processo criativo em pintura se faz presente nos objetos desta mostra. A definição do projeto expositivo para esta exposição carrega em si a presença de pequenos objetos dispostos em grandes espaços. Com isso, estabelecem-se relações entre o Ser e sua presença entre as coisas do universo, seja esse universo particular, interno, seja os espaços físicos e objetos que os cercam.

Para tanto, é fundamental que a instalação dos objetos no espaço expositivo represente o antagonismo entre as escalas físicas e aquelas que são difíceis de definir sua dimensão, como a dimensão da solidão, por exemplo. Quando propomos expor a obra “Ermo”, composta por um balanço medindo 7,5 x 3,5 x 4 cm, suspenso por uma corrente até alcançar um pé direito duplo ou triplo, numa sala da galeria relativamente grande e vazia, desejamos instaurar uma ideia sobre possíveis correlações entre as dimensões físicas e metafóricas como o humano, o material e o intangível.

Enquanto isso, as obras diminutas são habitadas por pequenas porções de carne, que repousam perpetuamente sobre suas mobílias, as quais fazem alusão à presença do indivíduo, do humano. Uma metonímia perversa, pois afinal somos constituídos de carne, e é na carne que se encontra o sentido de estar no mundo, na vida, onde “mora a pulsão”.

 

5)Outro ponto: cada objeto traz um verbete sobre ele. Esta literatura é fundamental para o espectador conhecer a obra que está exposta?

Não, esses verbetes não são  fundamentais. Eu considero os verbetes como a fala do artista sobre a obra produzida. São reflexões que tenta aproximar o fruidor do pensamento do artista. O público poderá realizar suas próprias reflexões a partir do seu contato com a obra, sem, necessariamente, ter lido os verbetes.

 

6)Estes objetos serão apenas objetos, se constituem peças únicas, ou serão seguidos por fotos (todas do catálogo são suas) e de pinturas?

Esta mostra é composta por 12 (doze) obras, objetos como peças únicas. As fotos dos objetos/obras são de minha autoria, como registro dos mesmos para o catálogo.

 

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