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100 anos de Amilcar de Castro

Abertura
19 de outubro de 2020

Horário
09h

Exposição
19 de outubro a 31 de dezembro

TOUR 360º

EXPOSIÇÃO 100 ANOS DE AMILCAR DE CASTRO

Artista de múltiplas atividades na arte, tendo sido escultor, gravador, desenhista, pintor, diagramador (destaque para a transformação gráfica efetivada no Jornal do Brasil, entre outros), cenógrafo, professor de composição, escultura, desenho e teoria da forma na Faculdade de Belas Artes da UFMG, Amilcar de Castro é não só um dos mais importantes artistas brasileiros do século XX.

Nos vários períodos da sua criação, o trabalhar com os diversos materiais, o corte e a dobra na matéria, o fazer rigoroso da forma, o equilíbrio da composição, o despojamento do ritmo e da expressividade que o gestual imprime sobre a superfície, e aí tanto faz seja ela bi ou tridimensional, em grandes ou pequenos formatos, a linguagem pessoal de quem estava a criar uma obra singular e poética.

Associando-se às comemorações dos 100 anos de Amilcar de Castro, a Paulo Darzé Galeria realiza em outubro de 2020 a exposição 100 anos de Amilcar de Castro, mostra presencial e virtual que reúne diversos trabalhos, entre pinturas e esculturas.

Para visitá-la presencialmente é necessário agendar horário. Aqui no site é possível visitar a exposição e online e o catálogo da exposição com depoimentos de familiares e artistas, uma biografia e um texto crítico de Ferreira Gullar. Na abertura da publicação temos um depoimento de Paulo Darzé:

Ao criar a Paulo Darzé Galeria tinha como um dos objetivos trabalhar com a arte moderna e a arte contemporânea. Isto acabou sendo desenvolvido através dos anos com uma atuação expondo os principais nomes da arte no Brasil. Entre eles estava neste propósito Amilcar de Castro, que o conheci ainda no final dos anos 90 para fecharmos uma mostra. Infelizmente esta não aconteceu com a presença dele. Depois de sua morte realizamos duas exposições em nossa sede aqui na Bahia e uma na SPArte, e continuamos trabalhando e exibindo e comercializando até hoje sua obra.

Falar de Amilcar de Castro em seu centenário é falar de um dos artistas mais importantes na história da arte e de um trabalho que ao ser concebido nos traz o rigor e a simplicidade através de técnicas, formas e linguagens, em diferentes materiais, seja na obra gráfica ou na escultórica, e nos ensina no seu todo e em toda sua criação a afirmação da liberdade, algo imprescindível não só para a arte, mas para vida. Uma lição do existir. Como diz seu filho Rodrigo, artista também de nossa galeria, “quanto mais o tempo passa maior a grandeza que se desvela de sua obra”.

 

A EXPERIÊNCIA RADICAL 
(Ferreira Gullar, 2000)

Alguns aspectos da escultura moderna talvez ainda não tenham sido devidamente explicitados pela crítica, e um deles é a troca do volume pelo plano, da massa pela superfície. Não tenho o propósito de discutir essa questão, muito menos aqui, quando escrevo apenas uma rápida apreciação da obra de Amilcar de Castro. Não obstante, é precisamente porque retomo a reflexão sobre suas obras que esse problema se coloca. É que a obra de Amilcar, por sua exemplaridade, situa-se no centro mesmo da discussão da escultura moderna.

Explico-me. O movimento de arte neoconcreta de que Amilcar foi um dos protagonistas, radicalizou as questões da arte contemporânea como nenhum outro movimento o fizera até aquela época no Brasil e, por isso mesmo, pôs sobre a mesa as questões essenciais com que ela lidava desde o neoplasticismo, o suprematismo, o construtivismo e, nos anos 50, a Escola de Ulm. Ou seja, que arte fazer depois da ruptura com a natureza? Essa ruptura implicava o abandono da figura e consequentemente de toda a linguagem pictórica e escultórica do passado. No plano da escultura, Amilcar é quem vai mais fundo nessa indagação.

A matéria da escultura tinha sido até começos do século 20 o volume, a massa. Com Pevsner, Gabo, Max Bill, entre outros a massa se evapora deixando em seu lugar o espaço vazio. Amilcar entende que cabia ao escultor, então, reinventar a escultura a partir do plano, que é o contrário do volume. Na verdade, outros escultores lidaram com essa mesma questão, mas o específico da experiência amilcariana está na radicalidade com que assumiu o desafio: do plano (da superfície plana) nascerá a nova escultura sem nenhum artifício, sem apelo a nenhum recurso estranho à natureza do próprio plano. É um começar de novo, a partir do zero.

Acompanhei, no começo dos anos 50, a busca que ele realizava, as suas perplexidades e tentativas diante da superfície inerme e muda que era sua única herança. Até que um dia veio-lhe a resposta: cortou uma placa retangular no meio e moveu uma das partes para baixo e a outra para cima; a placa bidimensional, com esse simples movimento, tornara-se tridimensional – volume!

Começa aí a escultura Amilcar de Castro. Um corte e um gesto. A placa, invencivelmente calada e imóvel, enfim se anima e fala. Uma fala que se refere à sua própria origem e retorna incessantemente a ela, porque, na verdade, todas as obras que Amilcar produziu desde aquele remoto momento (1958?/1959?) são variações daquela primeira obra. A placa muda de forma – quadrada, circular, paralelogrâmica -, muda de proporção, muda de espessura, mas como consequência do mesmo recurso expressivo: o corte e a dobra.

É verdade que esse procedimento se enriquece ao longo dos anos com novos elementos que, no entanto, não alteram sua natureza, mas antes a acentuam, como o uso da placa de ferro espessa, de grande formato, que, por ser espessa e grande, valoriza tanto o corte quanto a dobra. Como se vê, é a superfície que fala conforme suas qualidades materiais, se menos ou maior, se mais espessa ou mais fina.

Houve, porém, um momento em que Amilcar buscou um novo modo de criar sua escultura. Foi quando produziu a série de obras em que utilizou o corte, mas não a dobra, ou seja, abdicou da criação do volume virtual. Nessa fase, a placa é tão espessa que já nem pode ser chamada de placa, mas de bloco. São blocos de ferro, de pequeno tamanho e forma retangular ou quadrada. O corte vale por si mesmo e não como um meio para possibilitar a dobra: ele é feito para permitir a penetração do espaço no bloco compacto de ferro ou para permitir a inserção de um bloco no outro. É uma experiência que lembra a “linha orgânica” de Lygia Clark, mas que não é uma cópia, e sim uma redescoberta. Amilcar, assim, retomava a problemática da escultura enquanto massa, como a ajustar contas com o passado.

A fase atual é uma continuação da linguagem de cortes e dobras, só que agora explorando novas possibilidades desse procedimento. É que as obras atuais foram feitas com um tipo especial de aço que permite o uso de placas mais delgadas, o que, por sua vez, possibilita diferentes modos de dobrá-las.

 

O INSTITUTO AMILCAR DE CASTRO

Em 2004 no seu local de trabalho, o ateliê de Nova Lima, foi transformado no Instituto Amilcar de Castro, tendo por objetivo organizar e preservar as obras do acervo do artista. O Instituto desenvolve um trabalho permanente com o objetivo de divulgar e valorizar a obra e a história do artista. Desde sua fundação que os trabalhos são cedidos para mostras individuais e coletivas, em galerias e espaços institucionais, nacionais e internacionais, contribuindo para que a visibilidade da obra alcance os variados meios de comunicação com o publico, colecionadores, admiradores da arte e pesquisadores do assunto, do artista e sua história. Aberto para visitação ao público, por enquanto com agendamento prévio, o Instituto abre suas portas para compartilhar com todos os interessados em ver e sentir de perto a força da obra de Amilcar.

Para as comemorações dos 100 anos o Instituto reuniu em seu site (contato@institutoamilcardecastro.com.br) uma variedade de opiniões sobre a pessoa ou/e a obra, e são destas contribuições, após uma seleção, e incluindo nele sua biografia, e dele sendo também retirado o texto crítico de Ferreira Gullar, que formatamos os textos deste catálogo, onde temos familiares, amigos, críticos, e artistas com suas opiniões, confirmando o que dele disse o também artista, e seu filho, Rodrigo de Castro: Que, acreditando sempre e até o fim realizou uma obra fora do tempo. Hoje ou em qualquer tempo, Amilcar de Castro sempre irá surpreender e preencher nosso olhar, nossa alma, com o inusitado, o novo, a arte pura de um mestre que, com sabedoria, empurrou o fim para um depois, mais e muito além do tempo.

 

BIOGRAFIA (1920 – 1935)
Nasceu em 8 de junho de 1920 em Paraisópolis, Minas Gerais, filho do juiz e desembargador Amilcar Augusto de Castro e de Maria Nazareth Pereira de Castro. Deslocamentos profissionais do seu pai fazem com que a família more em diversas cidades, até se instalarem definitivamente em Belo Horizonte, em 1935.

1941-1969
Em 1941, ingressa na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, tornando-se Bacharel em 1945.

Em 1944, inscreve-se na Escola de Arquitetura e Belas Artes, frequentando o curso de desenho e pintura dado por Alberto da Veiga Guignard. Os cursos são unificados quando da criação do Instituto de Belas Artes. Amilcar faz parte da primeira turma, estreitando os laços com Guignard.

Em 1945, é selecionado para o 51º Salão Nacional de Belas Artes.

Em 1947, recebe Medalha de Bronze no V Salão de Arte Moderna do Ministério da Educação e Cultura (MEC), no Rio de Janeiro. Os trabalhos selecionados foram dois desenhos de Ouro Preto. Foi o primeiro reconhecimento oficial da carreira artística.

Em 1950, integra o 55º Salão Nacional de Belas Artes, com as obras Nu e Máscara de Ceschiatti.

Em 1951, recebe medalha de bronze (categoria Escultura) no III Salão Baiano de Belas Artes, em Salvador. No mesmo ano integra a divisão moderna do 56º Salão Nacional de Belas Artes com uma escultura e dois desenhos.

Em 1955, o 1º Prêmio de Escultura no Salão Nacional de Arte Moderna da Bahia.

Em 1956, integra a Exposição Nacional de Arte Concreta, organizada pelo Grupo Ruptura.

Em 1956/57 a exposição é apresentada em São Paulo (MAM-SP) e no Rio de Janeiro (MAM-RJ).

Em 23 de março de 1959, assina o Manifesto Neoconcreto – publicado no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil –, redigido por Ferreira Gullar e também assinado Lygia Clark, Lygia Pape, Reynaldo Jardim, Franz Weissmann e Theon Spanudis.

Entre 1959 e 1961 o grupo neoconcreto organiza três exposições: – 1959 – MAM-RJ (Rio de Janeiro) e no Belvedere da Sé (Salvador) – 1960 – MEC (Rio de Janeiro) – 1961 – MAM-SP.

Em 1960, participa da exposição internacional de arte concreta “Konkrete Kunst”, organizada por Max Bill, em Zurique. Em 1963 faz a cenografia do enredo da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, auxiliado pelos amigos e artistas Jackson Ribeiro e Hélio Oiticica.

Em 1965 ganha o prêmio da Fundação Guggenheim, concedido para os anos de 1968 a 1969. Foi a primeira vez que um artista brasileiro recebeu a bolsa da Fundação Guggenheim.

Em 1967, ganha o Prêmio de Viagem ao Exterior do XVII Salão Nacional de Arte Moderna (MEC, Rio de Janeiro).

Em 1968 muda-se para os Estados Unidos.

Em 1969 faz exposição individual na Galeria Kornblee (Nova York). Faz outras exposições no Convent Jesus Sacrat Hart e na New York University, ambas em Nova York.

1971-1990
Ganha a bolsa da Fundação Guggenheim mais uma vez.

Retorna ao Brasil e decide morar em Belo Horizonte.

Dá início a sua carreira como professor, dando aulas de escultura e artes na Fundação de Artes de Ouro Preto, e na Escola Guignard, aonde vem a ser diretor. Durante as décadas de 70 e 80 leciona escultura, desenho, teoria da forma e composição na Faculdade de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Aposenta-se como professor em 1990.

Em 1973 retoma os trabalhos de desenho que, antes eram projetos de esculturas e, agora, passam a ser trabalhos independentes. Esses trabalhos ficaram desconhecidos do público até 1976, quando são exibidos no IV Salão Global de Inverno de 1976, em Belo Horizonte.

Em 1975, desenvolve pinturas em acrílico com trinchas e vassouras.

Em 1977, recebe na categoria Desenho, o prêmio do Panorama da Arte Brasileira, organizado pelo MAM-SP.

Em 1978 é premiado na categoria Escultura.

Faz, em 1978, sua primeira exposição individual no país, mostrando desenhos no Gabinete de Arte Raquel Arnaud (São Paulo). Nas décadas de 80 e 90 faz várias exposições na galeria.

Também em 1978 executa sua maior escultura de 32m para a cidade de Ouro Branco, MG.

Em 1979, participa em sala especial da XV Bienal Internacional de São Paulo.

Em 1984, participa do projeto da Escola de Artes e Ofícios de Contagem – EAOC, MG. Projeto voltado para alunos carentes, não é levado adiante pelas autoridades do governo.

Em 1989, com a curadoria de Paulo Sergio Duarte, realiza-se sua primeira retrospectiva, no Paço Imperial do Rio de Janeiro.

Em 1992, em São Paulo, o MASP realiza nova retrospectiva.

Realiza várias exposições na década de 90 e participa de coletivas no Brasil e no exterior.

Em 1995, recebe o Prêmio Nacional da Funarte – Fundação Nacional de Arte – e pelo Ministério da Cultura.

Em 1997, é premiado na primeira edição do Prêmio Johnnie Walker de Artes Plásticas.

Em 2001, inaugura seu novo atelier em Nova Lima, MG, com projeto do arquiteto Allen Roscoe.

2002
Morre em Belo Horizonte, em 22 de novembro de 2002.

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