Voltar

SP-Arte J. Cunha

Abertura
03 de abril de 2024

Horário
13h

Exposição
03 de abril a 07 de abril

A Paulo Darzé Galeria apresenta agora na SPArte 2024, de 3 a 7 de abril, no Pavilhão da Bienal, Parque do Ibirapuera, Portão 3, stand C02, São Paulo/SP, numa mostra reunindo pinturas e objetos do artista J. Cunha (José Antônio Cunha), artista baiano, nascido em 1948, na Ponta de Humaitá, Península de Itapagipe, em Salvador, Bahia, descendente de bantos africanos e de índios kiriris, filho de mãe sertaneja de Canudos e de pai descendente de ciganos da Armênia, territorialidades afetivas que estão impressas em sua obra.

 

J. Cunha

“Desde criança observo as relações das pessoas com os Mistérios do Sagrado. Nascido numa região em que as fronteiras entre o candomblé e o catolicismo se diluíam na prática das ações de fé, entre gestos e objetos configurados para ritos, gerando ideias que, com o tempo, consolidaram a criação de códigos com símbolos e sinais.

“Minhas imagens utilizam a milenar matriz espiritual africana que no Brasil a diáspora reconfigurou em panteão, tornando mais forte e rica a fusão de elementos – objetos, canto, dança, os elementos vitais, o espaço cenográfico e o meio ambiente como corpo visual único e, ao mesmo tempo, transformador harmônico e civilizador da natureza humana”.

“Essas grandes civilizações, bantos e kiriris, tanto indígena quanto africana, eu absorvi a questão da linha, que é infinita à composição. Pego a linha, acompanho a forma. Para mim, é um exercício semiótico. Comecei a desenvolver isso há algum tempo para poder chamar de linguagem. Eu uso pincel como um lápis, não é pincelada. É a linha pela linha”.

Trajetória

Aos 18 anos, J. Cunha entra no curso Livre de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia – um marco importante que definirá sua produção artística, onde frequenta a Escola até 1969., sendo recepcionado por uma tríade de artistas e professores, formada por Juarez Paraíso, Mario Cravo Jr., e Emídio Magalhães, e dá início a um processo de imersão na arte de forma orgânica e intelectual, na busca de suas raízes profundas: bantos e kiriris.

A inquietação artística de J. Cunha o leva para o Viva Bahia, grupo criado pela etnomusicóloga Emília Biancardi, em 1962. Cunha foi cenógrafo, figurinista e bailarino e participou de apresentações do grupo no Brasil e no exterior. Tendo como base a capoeira, o candomblé, o cordel e as manifestações populares rurais e urbanas, o Viva Bahia fazia experimentações estéticas com a cultura afro-baiana, maracatu em Alegria e Glória de um Povo, no Balé Brasileiro da Bahia, e foi fundamental na forma como a política e a religião se afirmaram na produção simbólica de J. Cunha.

Temos em 1970 a sua entrada oficial no mundo das artes visuais, quando recebe o Prêmio Artista da Nova Geração – UFBA / Museu de Arte Moderna da Bahia. Como prêmio, ganha uma exposição no MAM. “A partir desse momento, me considero um artista”. Participa da pré-Bienal de São Paulo, com pinturas cuja temática era a questão sociopolítica do Nordeste. Sua curiosidade o leva ao Balé Brasileiro da Bahia, criado pela Ebateca. Passa a assinar vários cenários e figurinos para turnês internacionais do Balé.

1972 – Convidado pela comissão da Brasil Plástica 72 – Bienal de São Paulo para representar a Bahia, leva Estandartes, sua primeira instalação, com três metros de altura, pintada em preto e vermelho. O trabalho é uma crítica à cultura do consumo. Claramente influenciado pelos tropicalistas, em 1974, dirige o filme Noite Alta Céu Risonho. Feito em Super 8 e nunca lançado, conta a história de um cangaceiro que sequestra a miss Bahia, que é salva por um super-herói nordestino. Influenciado ainda pelos ventos tropicalistas, participa da Il Bienal da Bahia. No ano seguinte passa a ser representado pela Galeria Cavalete, onde faz diversas exposições.

Em 1976 realiza a primeira individual no MAM-BA, Sertão e Luz, na qual apresenta múltiplas artes: pintura, desenho, dança, poesia, literatura e performance. Transforma o Solar do Unhão em uma festa de largo. Como consequência de suas múltiplas atividades, em 1977 é o primeiro artista a ganhar, na categoria Melhor Figurino, no Prêmio Martim Gonçalves, com o espetáculo O Meio do Mundo. Em 1978 participa da Bienal Latino-Americana de São Paulo com ambientação plástica para o espetáculo Ao Pé do Caboclo, do grupo experimental de Dança da UFBA, com coreografia de Lia Robatto, com quem fez diversos outros trabalhos.

Cria a identidade visual, como cenógrafo e figurinista, do bloco afro Ilê Aiyê, em 1979, definindo inclusive suas cores — amarelo, branco, vermelho e preto —, a partir de seus significados políticos, ideológicos e religiosos. Participa dos desfiles do bloco até o ano de 2005. Dois anos depois, 1981, assina o cenário e os figurinos de Maria Quitéria (1981), Sonhos de Castro de Alves (1982), Tropicália: Relíquias do Brasil (1983), para o Balé do Teatro Castro Alves (BTCA). Torna-se um colaborador eventual do BTCA.

1984 – Elabora o design da capa do primeiro disco do Ilê Aiyê, Canto Negro. Faz parte da equipe de decoração do carnaval de Salvador: Bahia, Cem Anos de Folia.1988. Participa do Projeto Nordeste de Artes Plásticas, exposição itinerante que percorre todas as capitais nordestinas, ao lado de artistas como Juarez Paraíso, Bel Borba, Murilo, Cesar Romero, Juraci Dórea, Sonia Rangel, entre outros. 1990. Participa do livro A Mão Afro-Brasileira, organizado por Emanoel Araújo, que registra a presença e a produção de negros e mulatos nas nossas artes e letras. 1991. Ao lado do irmão Babalú, participa da Quinzaine Culturelle Brésilienne-Peintres Brésiliens, em Genebra, na Suíça. Em sua trajetória internacional, também participou de exposições de arte negra em Los Angeles e Oakland, nos Estados Unidos.

Assina a cenografia e os figurinos do show da cantora Daniela Mercury, O Canto da Cidade, com o qual a axé music ganha projeção nacional, tendo trabalhado ainda com os artistas baianos: Márcia Short, Márcia Freire, Netinho, Lazzo Matumbi, entre outros. 1993. Cria os figurinos da peça Canudos: a Guerra do Sem Fim, encenada na Concha Acústica do Teatro Castro Alves. 1997. Assina a capa e as ilustrações para o livro Mãe Hilda – A História da Minha Vida, publicação do Ilê Aiyê sobre a mãe de santo e fundadora do bloco. Participa do The Refugee Project-Silent Auction, no The Museum for African Art, New York City, organizado pela cantora Lauryn Hill. 1998. Assina os figurinos do carnaval baiano 30 anos de Tropicalismo, com uma releitura dos parangolés de Hélio Oiticica para vestir os homenageados: Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa. 2000. É um dos artistas premiados da exposição Art for Expo, em Hannover, na Alemanha.

Ganha o Prêmio Copene de Cultura e Arte 2001 e monta a exposição A Vida Popular, As Cores da Terra, Centro de Memória e Cultura dos Correios, Pelourinho, Salvador. Faz em 2003 uma série de exposições em Michigan, nos Estados Unidos. Criação e supervisão de figurinos e adereços para o show Gilberto Gil e os Quatro Cantos, no Teatro Castro Alves. Convidado pela Fundação Casa de Jorge Amado, ilustra o livro Cinco Histórias, de Jorge Amado, ao lado de Calasans Neto, Bel Borba, Murilo e Sérgio Rabinovitz.

Em 2005 participa da exposição Brasil e Estrelas, na Prefeitura de Paris, integrando a programação do Ano do Brasil na França. No ano seguinte desenha o cartaz e elabora a identidade visual do longa Jardim das Folhas Sagradas, de Pola Ribeiro, lançado em 2011. Participa em 2007 da exposição As Portas do Mundo – Pluralidade na Lusofonia, que percorre alguns países da Europa e da África. Em 2008, como resultado do trabalho gráfico criado para o Ilê Aiyê, é convidado para a Biennale Internationale du Design Saint-Étienne, na França. 2009. É um dos convidados da exposição coletiva Design Brasileiro HojeFronteiras, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, ao lado de Gringo Cardia, Os Gêmeos, Guto Lacaz. 2012. Cria a identidade visual e ambientação cenográfica para o projeto Carnaval Ouro Negro. 2014. É um dos convidados da III Bienal Nacional da Bahia, com a apresentação do painel Códice, no Espaço Cultural Hansen Bahia, em Cachoeira. Cria o gradil Histórias de Ogum, para compor o acervo do Museu Nacional da Cultura Afro Brasileira-MUNCAB, em Salvador. 2015. Lançamento do documentário A Vida Estampada de J. Cunha, produzido pela TVE-Bahia. Em 2016 é publicado pela editora Corrupio, o livro O universo de J. Cunha. com organização de Danillo Barata. Em 2023 realiza a Exposição Uanga, retrospectiva de 60 anos de trajetória do artista no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA).

Loading...