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Rubem Valentim

Abertura
11 de abril de 2018

Horário
19h

Exposição
12 de abril a 15 de abril

Valores míticos de um povo e sua cultura numa linguagem plástica-visual-poética contemporânea. Artista que busca no regional a sua linguagem universal; artista de linguagem universal, mas de caráter essencialmente brasileiro. Arte que busca o espaço, percorrendo o erudito e o popular. Arte que busca na simbologia do candomblé uma poética visual brasileira configurando e sintetizando na construção da iconologia afro-ameríndia-nordestina, de uma estrutura totêmica, “um ritmo, uma simetria, uma emblemática, uma heráldica, um hieratismo, uma semiótica/semiologia não verbal visível”.

A arte e o artista

“Minha arte tem um sentido monumental intrínseco. Vem do rito, da festa. Busca as raízes e poderia reencontrá-las no espaço, como uma espécie de ressocialização da arte, pertencendo ao povo. É a mesma monumentalidade dos totens, ponto de referência de toda tribo. Meus relevos e objetos pedem fundamentalmente o espaço. Gostaria de integrá-los em espaços urbanísticos, arquitetônicos, paisagísticos.”.

“Meu pensamento sempre foi resultado de uma consciência de terra. De povo. Eu venho pregando há muitos anos contra o colonialismo cultural, contra a aceitação passiva, sem nenhuma análise crítica, das fórmulas que nos vem do exterior – em revistas, bienais, etc. E a favor de um caminho voltado para as profundezas do ser brasileiro, suas raízes, seu sentir. A arte não é apanágio de nenhum povo, é um produto biológico vital”.

“Eu acho que a nação brasileira continua. Por isso trato sempre em termos de povo brasileiro. Estou consciente de que os sistemas políticos passam, os problemas econômicos são substituídos por outros, a dialética da existência é um fato. Portanto essas coisas são efêmeras se nós as encararmos em termos de perenidade de povo, de continuidade de Nação, de continuidade histórica, no tempo e no espaço”.

“Assim eu acho que no Brasil, hoje, temos e defender nossa alma. É o que faço, transpondo todo esse sentir, esta poética, para uma linguagem contemporânea, evitando cair nas coisas caricatas, nos “tropicalismos”, no nefando kitsch, como tantos outros artistas brasileiros”.

“A Arte Brasileira só poderá ser um produto poético autêntico quando resultado dos sincretismos, das aculturações signicas (semiótica/semiologia não verbal) das culturas formadoras da nossa nacionalidade de base (branco-luso-negro-índio) acrescidas com a contribuição das culturas mais recentes trazidas pelos diferentes povos de outras nações e que, aqui nesse espaço Brasil-Continente comum a todos, se misturam criando um sistema de brasilidade cultural de caráter singular, de mito, mito e ritmo que sejam inconfundíveis apesar da famigerada Aldeia-Global. O fundamental é assumir a nossa identidade de povo em termos de Nação”.

 

Trajetória

Valentim, baiano de Salvador, nasceu num sobrado com sacadas de ferro, à Rua Maciel de Baixo, 17, Distrito da Sé em 1922. Ainda criança se interessou pela arte ao descobrir a cor azul, aos três anos de idade, ao disputar um caco de garrafa perdido no meio da rua. De pais pobres, foi o primeiro dos seis filhos.

Artista autodidata, Rubem participou do movimento de renovação das artes plásticas ao iniciar os anos 50, cujo objetivo principal era arrancar a Bahia do atraso cultural que vivia, realizando a primeira exposição individual em 1957 (Salvador), 1961 (Rio de Janeiro), 1967 (Roma). Em 1951 descobre a arte negra, signos e símbolos, para daí em diante fazer desta sua temática.

Deixando a Bahia transfere-se para o Rio de Janeiro em 1957, ficando nesta cidade até 1962. Eram tempos polêmicos do concretismo/neoconcretismo. Posteriormente passa a viver em Roma durante quatro anos, ao receber em 1962 o Prêmio de Viagem à Europa no Salão Nacional de Arte Moderna e Pequena Medalha de Ouro no Salão Paulista de Arte Moderna.

Viaja pela Europa: Inglaterra, França, Holanda, Bélgica, Alemanha, Áustria, Espanha, Portugal e Itália. Residiu em Roma de 1964 a 1966, quando voltou para o Brasil. Retorna indo morar em Brasília, 1966, onde fixou residência, dividida com São Paulo, até a sua morte em 30 de novembro de 1991, na capital paulista.

Formado em Odontologia, exerceu por um ano, mas “o consultório estava virando ateliê”. Abandonou para dedicar-se à pintura em 1948, Foi também estudante de jornalismo, e recebeu o título de doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia.

Participou da Bienal de Veneza. Diversas vezes da Bienal de São Paulo de 1955 a 1998, onde recebeu o Prêmio de Aquisição em 1967 e 1973, e teve Sala Especial em 1998. Em 1994, o Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, montou uma grande retrospectiva de sua obra. Em 1998 foi homenageado com Sala Especial no Parque de Esculturas do Museu de Arte Moderna da Bahia. É realizada duas novas retrospectivas: Pinacoteca do Estado de São Paulo (2001); Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (2002).

Para situar melhor seus princípios e objetivos diante da arte que construía e da arte em seu tempo, o que já foi colocado citando as suas opiniões no início deste texto, e  para isto nada melhor do que recorrermos para finalizar ao que escreveu em 1976, sob o título Manifesto Ainda que Tardio, depoimento fundamental para o entendimento de sua arte:

“Minha linguagem plástico-visual-signográfica está ligada aos valores míticos profundos de uma cultura afro-brasileira mestiça-animista-fetichista. Com o peso da Bahia sobre mim – a cultura vivenciada; com o sangue negro nas veias – o atavismo; com os olhos abertos para o que se faz no mundo – a contemporaneidade; criando os mesmos signos-símbolos procuro transformar em linguagem visual o mundo encantado, mágico, provavelmente místico que flui continuadamente dentro de mim. O substrato vem da terra, sendo eu tão ligado ao complexo cultural da Bahia: cidade produto de uma grande síntese coletiva que se traduz na fusão de elementos étnicos e culturais de origem europeia, africana e ameríndia. Partindo desses dados pessoais e regionais, busco uma linguagem poética, contemporânea universal, para expressar-me plasticamente. Um caminho voltado para a realidade cultural profunda do Brasil – para suas raízes – mas sem desconhecer ou ignorar tudo o que se faz no mundo, sendo isso por certo impossível com os meios de comunicação de que já dispomos, é o caminho. A difícil via para a criação de uma autêntica linguagem brasileira de arte. Linguagem plástica-vérbica-visual-sonora. Linguagem plurisensorial: o sentir brasileiro”.

A Paulo Darzé Galeria estará de 11 a 15 de abril, na SParte, Feira Internacional de Arte Moderna e Contemporânea de São Paulo, apresentando uma mostra no Pavilhão da Bienal, Parque do Ibirapuera, no stand G6, com exposição de relevos e esculturas de Rubem Valentim.

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