Voltar

Leda Catunda

Abertura
20 de maio de 2021

Horário

Exposição
20 de maio

Leda Catunda (1961)|
Nasceu em São Paulo. Vive e trabalha e São Paulo.

 

EXPOSIÇÕES COLETIVAS

1983
– Pintura como Meio, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo/SP
– XVII Bienal Internacional de São Paulo, Vídeo Texto, São Paulo/SP 1984
– ARCO, Thomas Cohn Arte Contemporânea, Madri/Espanha
– Leda, Sérgio, Ciro, Leonilson, Galeria Luisa Strina, São Paulo/SP
– I Bienal de Havana, Havana/Cuba
– Geração 80, Parque Lage, Rio de Janeiro/RJ

1985
– Nueva Pintura Brasileña,  CAYC, Buenos Aires/Argentina
– XVIII Bienal Internacional de São Paulo/SP
– Today’s Art of Brasil, Hara Museum of Contemporary Art, Tóquio/Japão

1986
– Transvanguarda e Culturas Nacionais, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro/RJ
– El Escrete Volador, Guadalajara/México
– Brazilian Painting, Snug Harbor Cultural Center Nova York/EUA 1987
– Modernidade, Museu de Arte Moderna de Paris/França
– Imagem de Segunda Geração, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo /SP

1988
– Modernidade, Museu de Arte Moderna de São Paulo/SP
– Dimensão Planar, Funarte, Rio de Janeiro/RJ

1989
– Arte Híbrida, Funarte Rio de Janeiro/RJ, MAM de São Paulo/SP
– Espaço Cultural BFB Porto Alegre/RS
– U-ABC, Stedelijk Museum Amsterdã/Holanda
– Panorama da Arte Atual Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo/SP

1990
– U-ABC, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa/Portugal
– Prêmio Brasília de Artes Plásticas, Museu de Arte de Brasília, Brasília/DF

1991
– Viva Brasil Viva, Liljevalchs Konsthall, Estocolmo/Suécia
– Mito y Magia, Museu de Arte Contemporânea de Monterrey/México
– Brasil La Nueva Generación, Museu de Belas Artes de Caracas/Venezuela

1992
– Entretrópicos, Museu de Arte Contemporânea Sofia Imberg, Caracas/Venezuela
– Um olhar sobre o figurativo, Galeria Casa Triângulo, São Paulo/SP
– Artistas Latinoamericanos del Siglo XX, Estación Plaza de Armas, Sevilha/Espanha

1993
– Lateinamerikanische Kunst, Museum Ludwig Kunsthalle Josef-Haubrich, Colônia/Alemanha
– Latin American Artists of the Twentieth Century, Museum of Modern Art, Nova York/EUA
– De Rio a Rio, Galeria OMR, Cidade do México/México
– Ultra Modern: The Art of Contemporary Brazil, The National Museum of Women in the Art Washington DC/EUA
– A Presença do Ready Made, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo/SP

1994
– Pequeño Formato Latino Americano, Galeria Luigi Marrozini, San Juan/Porto Rico
– Bienal Brasil Século XX, Fundação Bienal, São Paulo/SP
– XXII Bienal Internacional de São Paulo/SP

1995
– Havana – São Paulo, Lunge Kunst aus Lateinamerica, Haus der
– Latin American Women Artists 1915 – 1995, Milwaukee Art Museum/EUA Phoenix Art Museum, Denver Art    Museum/ EUA
– A Infância Perversa, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro/RJ 1996
– Latin American Women Artists 1915–1995, National Museum of Women in the Art, Washington DC, Center for the Fine Arts, Miami/EUA
– Contrapartida, Kunstspeicher, Potsdam/Alemanha
– Artistas Contemporâneos Brasileiros,  Bayer, Leverkusen e Dormagen/Alemanha, Museu de Arte Moderna de São Paulo/SP
– 15 Artistas Brasileiros, Museu de Arte Moderna de São Paulo/SP 1997
– 15 Artistas Brasileiros, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro/RJ, Museu de Arte Moderna da Bahia/BA
– Heranças Contemporâneas, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo/SP
– ES 97 Tijuana, Centro Cultural Tijuana, Museu Rufino Tamayo, Cidade do México/México
– Material Immaterial, The Art Gallery of New South Wales, Sidney/Austrália
– Experiências e Perspectivas, Museu Casa dos Contos, Ouro Preto/MG
– Brasil – Reflexão 97,  Museu Metropolitano de Arte, Curitiba/PR 1998
– Galeria Kolams, Belo Horizonte/MG
– Anos 80, Galeria de Arte Marina Potrich, Goiânia/Go
– Der Brasilianische Blick, Haus der Kulturen der Berlim/Alemanha
– O Moderno e o Contemporâneo, Coleção Gilberto Chateaubriand, MASP, São Paulo/SP

1999
– Cotidiano/Arte: Objeto – Anos 90, Instituto Cultural Itaú, São Paulo /SP
– Artistas do Festival, MAC Casa de Cultura Mário Quintana, Porto Alegre/RS
– O Brasil no Século da Arte, A Coleção MAC USP, Galeria de Arte do SESI, São Paulo/SP

2000
– Mostra do Redescobrimento – Brasil + 500, Fundação Bienal de São Paulo/SP
– III Semana Fernando Furlaneto, São João da Boa Vista/SP
– O Século das Mulheres, Algumas Artistas, Casa de Petrópolis, Petrópolis/RJ
– Obra Nova, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo/SP

2001
– Signs of life, Galeria Ramis Barquet, Nova York/EUA
– Inventário Poético, Galeria Casa da Imagem, Curitiba/PR
– O Espírito da Nossa Época, Museu de Arte Moderna de São Paulo/SP
– Trajetória da Luz, Itaú Cultural, São Paulo/SP
– Bienal do Mercosul, Porto Alegre/RS

2002

– Coleção Metrópolis de Arte Contemporânea, Pinacoteca do Estado de São  Paulo/SP, Pinacoteca Benedicto Calixto, Santos/SP
– Mapa do Agora, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo/SP
– Ares&pensares, Sesc Belenzinho, São Paulo/SP

2003
– Pele e Alma, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo/SP
– Leda Catunda, Rodrigo Andrade e Marco Gianotti, Aria Arte Contemporânea, Recife/PE
– 2080, Museu de Arte Moderna de São Paulo/SP

2004
– Still Life, Museu de Arte Contemporânea, USP – Fiesp, São Paulo/SP
– Geração 80, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro/RJ
– Heterodoxia, Memorial da América Latina, São Paulo/SP

2005
– Homoludens, Instituto Cultural Itaú, São Paulo/SP
– Arte em Metrópolis, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo/SP 2006
– Manobras Radicais, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo/SP
– Volpi Heranças Contemporâneas, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo /SP
– Fortes Vilaça na Choque Cultural, Galeria Choque Cultural, São Paulo/SP
– Padrões e padronagens, Galeria Marilia Razuk, São Paulo/SP
– MAM na Oca, Museu de Arte Moderna de São Paulo/SP

2007
– Itaú Contemporâneo, Itaú Cultural, São Paulo/SP
– Intimidades, Galeria Marilia Razuk, São Paulo/SP
– 80/90 Modernos Pós Modernos etc., Instituto Tomie Ohtake, São Paulo/SP

2008
– Poética da percepção, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro/RJ, Museu Oscar Niemeyer, Curitiba/PR
– Desenho em todos os sentidos, Sesc Petrópolis/RJ
– HAPTIC, Tokyo Wonder Site, Tóquio/Japão

2009
– Memorial Revisitado – 20 anos, Memorial da America Latina, São Paulo /SP

2010
– Artista Convidada, Salão de Artes de Itajaí/SC

2011
– Arte Pará, Fundação Rômulo Maiorano, Belém/PA
– Beuys e bem além – Ensinar como arte, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo/SP
– Leda Catunda, Carmela Gross, Jac Leirner e Jorge Macchi, Centro Universitário Mariantonia, São Paulo/SP

2012
– Leonilson, Sob o peso dos meus amores,
– Exercícios de olhar, Museu Lasar Segall, São Paulo/SP

2013
– Tomie Ohtake: Correspondências, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo/SP
– 30 x Bienal, Fundação Bienal de São Paulo /SP
– Mitologias por procuração, Museu de Arte Moderna de São Paulo/SP
– Sobrenatural, Pinacoteca do Estado de São Paulo/SP

2014
– Pintura como Meio – 30 anos, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo/SP
– Cruzamentos: Contemporary Art in Brazil, Wexner Center for the Arts, Columbus/USA
– Diálogos com Palatnik, Museu de Arte Moderna de São Paulo/SP 2015
– No Sound, Galpão Galeria Millan, São Paulo/SP
– Southern Exposure: 5 Brazilian Artists, Galerie Maximillian, Aspen/EUA
– Espírito Oitenta, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória/ES

2016
– Tertúlia, Galeria Fortes Vilaça, São Paulo/SP
– Aprendendo com Dorival Caymmi, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo/SP

2017
– Metrópole: experiência paulistana, Pina_Estação, São Paulo/SP
– Tão diferentes, tão atraentes, Galeria Carbono, São Paulo/SP Museo Casa Diego Rivera, Guanajuato/México
– Modos de ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos, Oca, São Paulo/SP
– Troposphere: China-Brazil Contemporary Art, Beijing Minsheng Art Museum, China
– Historias da sexualidade, MASP, São Paulo/SP
– Past/Future/Present: Contemporary Brazilian Art from the Museum of Modern Art São Paulo,Phoenix Art Museum, Arizona/EUA

2018
– Jardim das delicias com juízo final, Galeria Cavalo, Rio de Janeiro/RJ
– Transformers, Auroras , São Paulo/SP
– O Maravilhamento das coisas, Galeria Sancovsky, São Paulo/SP
– Alcides/Leda, Onde estamos e para onde vamos, Galeria Estação, São Paulo/SP
– 33a. Bienal Internacional de São Paulo/SP

2019
– Perdona que no te crea, Carpintaria, Rio de Janeiro/RJ
– Colapso, Galeria Athena, Rio de Janeiro/RJ
– O pequeno colecionador, Carbono Galeria, São Paulo/SP
– Artista, substantivo no feminino, ArteEdições Galeria, São Paulo/SP

2020
– Cities in Dust, Carpintaria, Rio de Janeiro/RJ
– Bienal Naifs, SESC Piracicaba, Piracicaba/SP
– Exposição Casa Carioca, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro/RJ
– Já estava assim quando eu cheguei, Galeria Ron Mandos, Amsterdã/Holanda

 

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

1985
– Thomas Cohn Arte Contemporânea Rio de Janeiro/RJ

1986
– Espaço Investigação, Museu de Arte do Rio Grande do Sul Porto Alegre/RS

1987
– Galeria Luisa Strina São Paulo/SP

1988
– Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro/RJ

1990
– Museu de Arte Contemporânea de Americana, Americana/SP
– Galeria São Paulo/SP
– Pasárgada Arte Contemporânea, Recife/PE

1992
– Centro Cultural São Paulo/SP
– Galeria São Paulo/SP
– Módulo Centro Difusor de Arte, Lisboa/Portugal

1993
– Módulo Centro Difusor de Arte, Porto/Portugal
– Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro/RJ
– Pulitzer Art Gallery, Amsterdã/Holanda

1994
– Galeria Volpi, Fundação Cassiano Ricardo, São José dos Campos/SP

1996
– Galeria Camargo Vilaça, São Paulo/SP

1997
– Paço Imperial, Rio de Janeiro/RJ

1998
– Galeria Casa da Imagem, Curitiba/PR
– Galeria Camargo Vilaça, São Paulo/SP

1999
– Paço das Artes, São Paulo/SP

2000
– Galeria Kalil&Lauar, Belo Horizonte/MG
– Galeria de Arte Marina Potrich, Goiania/GO
– Museu Vale, Vila Velha/ES

2001
– Galeria Ramis Barquet, New York/EUA
– Museu Alfredo Andersen, Curitiba/PR

2002
– Galeria Fortes Vilaça, São Paulo/SP

2003
– Centro Universitário Mariantonia, São Paulo/SP
– Fundación Centro de Estudos Brasileiros, Buenos Aires/Argentina
– Centro Cultural São Paulo, São Paulo/SP
– Anual da Faap, artista convidada, São Paulo/SP

2004
– Galeria Fortes Vilaça, São Paulo/SP
– Galeria Ramis Barquet, New York/EUA

2005
– Galeria Alberto Sendros,  Buenos Aires/Argentina
– Museu de Arte de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto/SP

2006
– Galeria Fortes Vilaça, São Paulo/SP
– Galeria Marina Potrich, Goiania/GO

2007
– Dragão do Mar, Mac de Fortaleza/CE
– Galeria Arte 21, Rio de Janeiro /RJ
– Galeria Celma Albuquerque, Belo Horizonte/MG

2008
– Galeria 111, Lisboa/Portugal

2009
– Galeria Fortes Vilaça, São Paulo/SP
– Galeria Fortes Vilaça, São Paulo/SP
– Leda Catunda 1983 – 2008, Estação Pinacoteca, São Paulo/SP 2011
– Galeria Silvia Cintra, Rio de Janeiro/RJ
– Galeria Paulo Darzé, Salvador/BA

2012
– Ruth Benzacar, Buenos Aires/Argentina

2013
– Galeria Celma Albuquerque, Belo Horizonte/MG
– Museu Oscar Niemeyer – MON, Curitiba/PR
– Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM, Rio de Janeiro/RJ

2015
– Leda Catunda e o gosto dos outros, Galpão Fortes Vilaça, São Paulo/SP- Leda Catunda – Seleção de obras de 1985 a 2015, Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza/CE

2016
– Leda Catunda – I love you baby, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo/SP

2017
– Leda Catunda – Kubik Galeria, Porto / Portugal

2019
– Paisagem moderna, Projeto parede, Museu de Arte Moderna de São Paulo/SP

2021
– Fuera de serie – MALBA Museu de Arte Latino Americano de Buenos Aires / Argentina
– Outono, Galeria Paulo Darzé, Salvador/BA

 

COLEÇÕES PÚBLICAS

– Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo -MAC-USP
– Museu de Arte de São Paulo – MASP
– Stedelijk Museum Amsterdam
– Museu de Arte de Brasília – MAB
– Museu de Arte Contemporânea de Americana – MACA
– Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM-SP
– Museu de Arte Moderna da Bahia – MAM-BA
– Fundação Padre Anchieta, São Paulo
– Museu de Arte Moderna  do Rio de Janeiro (Coleção Gilberto Chateaubriand) – MAM
– Acervo Contemporâneo UFF, Niterói
– Museu de Arte Contemporânea de Niterói
– Centro Wilfredo Lam, Havana
– Casa das Artes Miguel Dutra, Piracicaba
– Pinacoteca do Estado de São Paulo
– Pinacoteca Municipal de São Paulo
– Museu de Arte de Ribeirão Preto – MARP
– Museu de Arte Contemporânea do Ceará – MAC
– Casa das Onze Janelas, Belém do Pará
– Fundación ARCO, Santiago de Compostela
– Toyota Municipal Museum of Art
– Museu Oscar Niemeyer, Curitiba – MON
– Centro Cultural UFG, Goiânia
– Blanton Museum of Art, Austin

 

PRÊMIOS E RESIDÊNCIAS

 1990
– Aquisição, Prêmio Brasília de Artes Plásticas/DF

1996
– Residência em Berlin

2008
– Residência Tokyo Wonder Site, Institute of Contemporary Art and International Cultural Exchange Japão

2017
– Prêmio Bravo de Cultura: Melhor exposição de 2016

 

 

“[…] os olhos não podem conhecer as leis da natureza; por isso, não queiras atribuir à vista o erro do espírito”.
Lucrécio, De rerum natura (I a.C.)

Salvador é uma cidade singular. Sei que todas as cidades grandes têm singularidades …. São pensamentos, hábitos, formas labirínticas que configuram imaginários particulares no tempo e no espaço. Toda cidade grande é singular, mas Salvador é mais, e mais singular ainda é a Baía de Todos-os-Santos.

O mito tupinambá do surgimento da Baía de Todos-os-Santos – marco civilizatório da predatória e cruel colonização portuguesa – narra que essa Baía surgiu miticamente da queda de uma ave gigante que, desfalecida, caiu sobre as terras do litoral formando uma imensa cratera que se encheu de água; seu sangue fertilizou as terras e suas penas alvíssimas tornaram-se as areias brancas da praia.

A Baía inicia-se na Ponta de Santo Antônio, uma elevação onde se ergue um forte de mesmo nome. Este forte possui um farol chamado de Farol da Barra. Pegada ao Farol, à esquerda, antes ainda da entrada da Baía há uma praia comprida chamada Barravento. Essa praia recebe um vento intenso vindo do mar. Esse vento cessa imediatamente ao dobrarmos para a Ponta de Santo Antônio. Aí uma calma toma conta do lugar. O desaparecimento do vento nos dá a sensação de que nesse exato ponto inicial da entrada na Baía adentramos em um novo espaço dimensional, semelhante a um portal.

Nesse novo espaço, olhando para o Farol da Barra, você nota uma Rosa dos Ventos, um totem com os quatro pontos cardeais. Por algum motivo, o norte ali vira sul e o sul vira norte. Na entrada da Baía, se olhar para o norte da Rosa dos Ventos me dirijo a Itapuã? Não, pois ali tudo se inverte… Você nunca chegará à Itapuã se seguir as orientações daquela Rosa dos Ventos.

Nesse mesmo marco inaugural fabuloso do Brasil há também “carneirinhos do mar”, espumas brancas que comumente em outros mares surgem das ondas como padrões harmoniosos que se repetem ordenadamente. Os “carneirinhos do mar” que surgem na entrada da Baía de Todos-os-Santos, no entanto não possuem essa imagem harmoniosa e rítmica do movimento das ondas em conjunto. Na Ponta de Santo Antônio as ondas tornam-se confusas, pois se misturam num conflito de vazante e cheia, vão e vem “aleatoriamente”, desobedientes batem cabeça, rebeldes e independentes por opção. É diferente.

Nosso marco inaugural, berço/umbigo da nação brasileira nasce desse ponto de deslocamento do real, do lógico, que creio marcará profundamente as formas com que essa nação vive e produz cultura. Um exemplo disso é a obra de Leda Catunda. Essas aproximações e afetos que a artista tem por Salvador podem surgir dessas ressignificações do real que ela cria. É um pouco disso que esse texto fala.

“Seu problema é que passou a vida toda pensando que há regras.
Não há regras”.
Lorne Malvo in Fargo T1:E1 “O paradoxo do crocodilo”

Sinceramente: em obras como Outono(pág. 63), Pista com línguas(pág. 41), Grades(pág. 47), Céu com sol(pág. 19) e Rio azul(pág. 55), por exemplo, o que está diante de nós de reconhecível para que possamos dizer: isso existia, já vi antes?. Nada. Até mesmo as partes gráficas reconhecíveis do mundo, ou a noção básica do que é pintura. O que vejo, não conheço. Posso pinçar elementos dessas obras e fazer leituras críticas sobre esses signos visuais, inter-relações com o mundo das imagens e superfícies; no entanto, isso seria escolher uma parte que não explica o todo.

Nota-se uma disposição da artista em nos fornecer pistas com títulos substantivados. Contudo, se nós olharmos atentamente e tentarmos estabelecer relações entre os gestos, as formas e as superfícies, perceberemos que olhamos para algo desconhecido, que não sabemos o que realmente é. Isso é bom.

Sabemos que se trata de uma obra de arte, mas esqueçamos disso por alguns instantes e enxerguemos apenas esse real à nossa frente.

Ao vermos um risco no papel, uma pintura, uma escultura, sabemos o que é. Podemos não entender o que significa, mas sabemos o que é… É um pouco disso que se trata, mas não só. Na verdade, é anterior a isso: Quando olhamos para um trabalho da artista, precisamos de uma nova classificação de coisa, de objeto surgido do mundo… São formas que rompem com o real e dele ressurgem.

Seria instrutivo assumirmos que nunca vimos isso na vida, e que, portanto, não sabemos como nos posicionar, uma vez que estamos deslocados do nosso conhecer, sem poder aferir o que estamos vendo. Seria um jeito sincero de ver, assim poderíamos criar novos nomes e categorias para essas formas, uma experiência criativa também. Quem se dispõe a isso?

“Eu tive um flashback de algo que nunca existiu”.
Louise Bourgueois, Ode à l’Oubli, 2002

Não me recordo de alguém escrever que Leda Catunda é uma artista que conhece cor; não me lembro de ter lido algo sobre ela que tratasse especificamente do aspecto da cor. Acho que dentre os artistas vivos ela pode ser considerada uma das melhores coloristas brasileira. A cor na sua obra parece ser subjugada por uma insistência da crítica em enxergar principalmente os signos gráficos e, a partir deles, construir discursos sobre imagens ready-mades e sociedade de consumo, levando as leituras sobre as imagens para territórios conhecidos da história da arte e da estética.

A artista não é uma estudiosa da cor, pelo menos no sentido específico da questão cromática, como Eduardo Sued, Albers, Volpi e outros. O ato de construção da cor também não se dá apenas sobre o conhecimento da tinta artística de tubos, e muito menos sobre um suporte neutro-planar de uma tela de pintura. Entretanto, é ela, a cor – por ser a prima mais próxima da pintura, por aproximar-se mais da sensorialidade do mundo, da sensualidade, e, portanto, por corporificar-se e afastar-se da linearidade gráfica intelectual do desenho, que estrutura toda a obra da artista.

Quando se diz que um artista conhece cor é porque uma composição cromática manifesta-se como linguagem, comunicação. Diz-se: Essa obra possui um “pensamento cromático”. Na obra de Leda Catunda, esse pensamento ganha complexidade, pois reúne tecidos, madeiras e apliques que possuem em si mesmas cores e texturas. Na sua práxis artística, esses elementos devem ser organizados e misturados a tingimentos e tintas de tubo propriamente ditos. Há um tirar e pôr constantes que são ordenados, antecipando decisões e alterações cromáticas, ocasionadas pelos signos gráficos, texturas, costuras, furações, volumes e planos amalgamados, que no embate da obra se fundem.

É evidente que a experiência narrada pode ocorrer em qualquer tipo de
trabalho. Aqui, no entanto, o número de procedimentos é tão maior que demanda da artista uma habilidade especial, capaz de organizar simultaneamente diversas camadas de significantes numa estrutura compositiva única sustentada por um pensamento cromático. Todo esse lastro da obra é dado por uma sabedoria intuitiva da cor, tudo junto construindo uma superfície plano-volumosa chamada “obra de arte”.

“Apanhei um pensamento estranho que pousou como uma borboleta na palma de minha mão:
O pensamento de que um dia, há muito tempo, pessoas houve que, como desdobramentos de nós mesmos, amavam tal como nós, as abstrações”

Franz Marc, Aforismos 1914 – 1915

Boa parte dos trabalhos que fazem parte da exposição possui um elemento comum, uma espécie de rolo que contorna partes da obra; algumas vezes, assemelha-se a um turbante ou rolo de pano para apoiar objetos na cabeça; em outras, literalmente, a moldura de uma pintura-objeto.

Essa forma sempre me intrigou tanto quanto uns risquinhos de tinta que ela sempre faz e que já existem há um bom tempo em seu trabalho. Esses rompantes subversivos são frequentes na obra da artista, assim como as realocações e os deslocamentos semânticos formais. Os significantes se alternam, como se essas formas tubulares que nem parecem muito ser, mas que tem o status de moldura, fossem o tema em si e vice-versa.

No trecho do afresco da Catedral de Orvieto, Lucas Signorelli retrata, na pequena moldura central, a figura de Dante; nas molduras circulares, imagens da Divina Comédia; ao fundo, um “… Acúmulo turbulento, no qual se entrelaçam objetos, gavinhas, corpos meio homens e meio animais”.

“O mundo do grotesco é o nosso mundo – e não o é. O horror, mesclado ao sorriso,
tem seu fundamento justamente na experiência de que nosso mundo confiável
e aparentemente arrimado numa ordem bem firme se alheia sob a irrupção
de poderes abismais, se desarticula nas juntas e nas formas e se dissolve em suas ordenações”.

A obra de Leda não retrata esse horror, nem o abismal, mas irrompem as junções, dissolve ordenamentos, desarticula as juntas e traz sim um incômodo que evitamos enfrentar, ao imergirmos nesse desprendimento das certezas que temos desse mundo que vemos, mundo esse que se afirmava há pouco tão certo e sólido e que agora apresenta-se desarticulado e solvente. Pandemias e governos autoritários como o nosso Brasil de hoje, expõem muito mais nossa surpresa dessa irrupção de poderes abismais do que as certezas sobre ordenações futuras.

Na exposição Outono, há sim um lócus, um ponto em que as lógicas não funcionam aos olhos, por mais que nos expliquem. Daí a grande afinidade ontológica entre o Brasil e a arte da Leda Catunda, que é um pouco esse território em que há um jogo, cuja regra não é tão firmemente indexada ao mundo visível e lógico, como os textos críticos que falam sobre a obra dela dizem ser. É mais um mundo parido, que não sabemos onde vai dar.

A exposição Outono deve nos motivar a refletir sobre a construção do nosso olhar, procurar anular nossa referência para que possamos olhar as coisas como se fossem a primeira vez. Devemos buscar em nós aqueles “olhos de criança” que Henri Matisse nos convidou a olhar a vida para, quem sabe, construir uma nova imagem do mesmo mundo que supomos ser conhecido por nós.

Toda arte é uma criação, um fazer surgir algo nunca visto. As obras dessa exposição nascem de um grande desprendimento, uma maturidade artística e uma liberdade invejável. Como liberdade, “não é satisfatoriamente explicável, porque deixa de ser liberdade quando explicada”.

Ricardo Bezerra

Loading...