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ARISTIDES ALVES

Abertura
18 de abril de 2017

Horário
19h

Exposição
19 de abril a 13 de maio

O primeiro dos ensaios é inspirado num conto Yorubá – uma ave desprezada por não possuir nenhum encantamento, encontra na floresta sagrada um velho abandonado e doente. Após sete dias alimentando e cuidando do ancião, ele se revela Obatalá, e, como agradecimento, pintando-a com Efun, transformando-a no animal mais importante do culto dos Orixás ETU, a galinha d’angola.

Com o título “Outros”, o segundo mostra as imagens realizadas no período entre 1994 a 2015, onde descontextualiza elementos e objetos do seu universo cultural associando-os ao corpo nu, criando uma nova estrutura visual – o corpo que se tem é a consistência da realidade. Este ensaio se revela um passeio pelo universo afro-baiano e influências adjacentes.

Ainda nos inéditos temos “Tríade”, seleção de fotografias realizadas nos últimos 10 anos, entre Belém do Pará e Sul da Bahia, o litoral e o sertão. Cada foto extrapola o contexto do ensaio de origem, ativa uma história e um espaço próprios que vão além do aparente. Cada conjunto propõe um patamar de reflexão.

Os outros dois ensaios apresentam um conjunto de imagens entre 1998 e 2016 influenciadas pela leitura do livro ‘A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen’, de Eugen Herrigel, e de uma oficina de fotografia feita com Paulo Leminski – ‘O Hai Kai e a Fotografia’. São pequenos recortes com as minúcias de luz/sombra, claro/escuro, figura/fundo, resultantes do trabalho na contemplação solitária de centros urbanos.

Apresentação: Diógenes Moura

OBATALÁ, EFUN, OSÙ E A GALINHA-D’ANGOLA. Um livro que começa com uma lenda. Um fotógrafo que olha para si mesmo quarenta anos depois da primeira imagem. Duas terras que se unem: Minas Gerais e Bahia. Uma onde ele nasceu; a outra onde vive quase desde sempre. Na de lá, as Gerais, montanhas como grandes bichos pré-históricos adormecidos ao pôr do sol, toda margem, ainda há. Na de cá, a Bahia de agora desde sempre, o Ojá do tempo sobre a cabeça. No livro o futuro do passado no presente contínuo. Aristides Alves vive assim, dentro de cada página, dos olhos para dentro. Como uma epígrafe, a galinha-d’angola vive para falar de coisas interiores, de florestas sagradas, do firmamento entre homens e animais. A lenda se repete em todas as esquinas, mesmo nas que são invisíveis, mesmo nos tempos do acaso. A lenda se repete, os homens e a natureza se repetem: estamos assim, todos à beira de um só euprecipício. O difícil é entender. O difícil é o retrato de cada um de nós. O fundo infinito, o livro aberto, o veredicto. O fotógrafo diante do “outro”: ou a verdade ou o suicídio. Pode ser um grito ou o extrato de um longo silêncio. Máscaras, peitos, penas, cona, estrela do mar, o andor na cabeça. Não se trata de apenas iluminar o outro com a luz perfeita. O verdadeiro retrato não deixa rastros nos transeuntes da cidade antes encantada cujas esquinas hoje gosmam. Nós estamos dentro. A bomba-relógio entre os dedos. Se barroco a greta sagrada: nem flora nem geme. Em Jesus Cristo, em Nossa Senhora, na mariposa, no couro emoldurado. Em cada símbolo o mesmo silêncio. O olhar se desloca no homem que passa, no manequim suspenso, na pintura que anoitece, mas não amanhece para conhecer o dia seguinte. E se não existisse a fotografia? E se não houvesse o barroco, as volutas descascadas, a retina dos Deuses? Mais adiante o mesmo percurso. O encontro com o “outro” homem que novamente somos nós. Ali com o seu tudo que é a riqueza da sua história. Idiotas são os que não veem. Nós somos assim, desse jeito: por trás daquela mulher, no chão daquele Rio Paraguaçu está assentado um fundamento. Isso basta. O rio é sagrado como a floresta é sagrada. Sim, as esquinas gosmam. A bomba-relógio vai explodir. Mas e daí? A galinha-d’angola continua diante de Obatalá.

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