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Marco Antônio Ramos

Opening
27 de April de 2023

Schedule
19h

Exhibition
27 de April a 27 de May

A Digest

Alejandra Muñoz

 

To give shape to the frustrations or purge resentments through the artistic process would be a therapeutic path. Although, an atelier is not a divan and Marco Antonio doesn’t understand his experience as a pathology. On the contrary, he takes from the thickness of absences, of the omissions and needs, a conceptual ballast for his creations that articulates the most broad imaginaries and common references to most of us. This way, the collective ludic and the testimonial subjective intertwines in the arduous equation of the artist’s memory: a past filled with incompleteness and a future crossed by truncated expectations. A glimpse through the rearview mirror of life gives space to a surreal plot of creation. Thus, as his first individual exhibition, this sample is not retrospective, but digests the recent production of the artist.

 

The starting point is an ethical contemporary gesture, the reuse, the acknowledgement of the symbolic powers of materials still useful. Wood, metal or paper, most of the time originated from demolitions of old buildings, mining of junkyards or reminiscences of pieces emptied from the once representative values, clarifies a completeness of ignored existencies. Therefore, such materials are, beyond the expression of the physical and mineral resistance, a way of resilience and reinvention that underlies the obsolescence and impermanence of those objects they once belonged to.

The imbuia couple signs a enigmatic presence in the space: two turned figures that evoke the tradition of the Bahian mobiliary, they seem to have jumped out to the other side of the street from the archive of Museum Carlos Costa Pinto. The polished and smooth finish of the pieces enhances the memory of progressive life that each matter carries, at the same time it broadcasts the possibility of a new object. However, the patient artisanal work and the gleaming surfaces are not enough to make the objects work: steel kites don’t fly, marble balls almost don’t roll, imbuia football boots cannot be worn, the yo-yo doesn’t unroll, the cumaru bench isn’t soft, the ipê clackers are distressfully impossible to be played. Therefore, the paradox comes from an instigating metaphor to the artwork.

 

As it happens in the oneiric unconscious, the memory might flourish generating images of twisted objects. The studies are incomplete, the professional training unattained, the desire to play football not carried out, the absent familiar bonds are facts that also pass by a recycle, a new use, as if those reminiscent materials from other paths were rescued. The result is a significative tension between art and design beyond the artisanal crafting of the carpentry: they’re seductive objects in they cautious form that, dislocated from the scale and known contexts, defies the logic in they functional impossibility and subverts what is expected from them

 

The great reel of mahogany, allusive to the sewing mother, exposes the tension with half a stainless steel razor blade, that symbolizes the other absences.The enlarged dimensions of the installation resembles the operations of the Oldemburg scale. But also with these reels Marco Antonio used to build car toys. A homage to childhood? Maybe.This ambiguity is also present in the rosewood. The panel seems to evoke the traditional pedagogies and raise concerns about the trajectory of the current schooling. Is the reduced scale a metaphor for today’s education? More than nostalgia about the unfinished school training of the artist, are the persistence on the detail and singularity of each element alerts about otherness? In the proximity of these pieces, the school black board becomes a football field. So, how much learning is there outside school? The kaminagai frame of the black board may resemble the relevance of the experimental and non-formalized in the construction of the artistic journey.

 

In this thought-provoking context of subversions and ambiguities, the old emptied book might be a tome of open possibilities in the place of the literal stripping of images of a fragmentary past. Therefore, this digest might be appreciated as a promise of new creations. So be it.

1 – Você nasceu na Bahia, em 30 de agosto de 1971, em Salvador, onde vive e trabalha. O que há de sua cidade, de sua gente, de sua infância como campo de referência ou de investigação na sua arte?
Nasci no centro de Salvador, no bairro do Barbalho, e fui criado no Subúrbio Ferroviário, em Plataforma. Toda minha memória afetiva vem desse caminho entre o centro pós-colonial urbano e o subúrbio ferroviário, ainda rural naquela época, onde as necessidades sempre se esbarravam no ato criativo, ato esse, onde criava os próprios brinquedos.

2 – Inicia aos anos 1990, com a chancela da gravurista Sonia Castro, conhece a técnica da xilogravura, que o faz se aproximar de seu ofício primário, de marcenaria fina, herdada do avô.
Frequentei, na primeira infância, a oficina do meu avô materno onde tinha toda a liberdade de manipular ferramentas e construir o que vinha à cabeça. Com minha aproximação com Sonia Castro, comecei a estudar a técnica da xilogravura.

3- Pode falar da influência deste avô e da madeira em despertá-lo para o que faz hoje?
A influência dele foi de fundamental importância para conhecer técnicas e tipos de madeiras e suas diversas aplicações que hoje reverberam em meu trabalho.

4 – Ao fim dos anos de 1990, fortalece sua inserção no mundo das artes trabalhando no estúdio do artista visual J. Cunha. Qual o legado deste momento para sua arte hoje?
Ter contato com J. Cunha foi um pontapé inicial para entrar no universo das artes visuais com toda sua pluralidade e o legado foi o conhecimento obtido com o fazer artístico.

5 – No ano 2000 você participa das oficinas do MAM onde passa a ter contato direto, e podemos dizer diário, com vários artistas contemporâneos baianos e desenvolve especialmente técnicas de gravura e de expressão tridimensional. Qual o significado desta especialização para o quem vem depois na sua criação?
O significado foi a interação com as técnicas citadas e suas descobertas, tendo total importância e sendo fundamental para pensar e conceituar o trabalho.

6 – Nesse ínterim, junto com os artistas Eliezer Bezerra e Fernando Pigeard, cria o grupo Artconceito e passa a expor no circuito de arte de Salvador, da Bahia e do Nordeste. Pode detalhar este convívio em um coletivo, podemos chamar assim, no seu crescimento de artista?
Foram 10 anos muito produtivos. O Artconceito nasce com a ideia de ser um coletivo onde sempre abríamos para outros artistas. Discutíamos um sobre o trabalho do outro, onde esse câmbio de críticas gerava resultados extremamente positivos.

7 – Atualmente, você vem desenvolvendo um trabalho em que a memória e a experiência vivida caminham juntos. E disso temos sua frase: “Mergulho num lago de memórias “. A construção atual de suas esculturas, de seus objetos é, como você diz: “onde a lúdica experiência vivida faz surgir uma simbologia do imaginário popular”. O que é este imaginário popular na sua obra?
O imaginário popular surge no cotidiano, por exemplo, na construção dos próprios brinquedos, na observação do modus vivendi. Onde, latas de leite vazias enfileiradas viravam um carrinho de esticar.

8 – Sua arte dialoga com a arte contemporânea, são várias as tendências, e em qual delas se inclui?
Existe sim um diálogo, onde o desapego e a liberdade fantástica é o que mais me fascina na arte contemporânea. Não necessariamente me enquadro em nomenclaturas, apesar de estar sempre próximo de um conceito minimalista.

9 – Além da arte contemporânea sua arte tem uma busca na cultura popular. Qual a necessidade deste diálogo como força criativa e de buscar essa vertente na sua criação?
Seria o contraponto com tudo que vivemos nos últimos tempos com toda essa revolução digital. Vejo a arte popular como fonte inesgotável de pesquisa, pois nela observamos o modo de vida das pessoas.

10 – A sua arte, com essas escolhas, existe em sua plenitude por viabilizar a sua expressão, a expressão de sua linguagem, sua aventura? É uma arte pessoal?
Sim e é extremamente auto retratante.

11 – Vejo seu trabalho tratando de problemas de linguagem da arte – formas, volumes, espaços, movimentos, materiais –, e na busca de uma precisão técnica através de uma pesquisa incisiva e paciente por esses terrenos, principalmente na madeira, olhando seu trabalho como esculturas, esculturas em madeira. Como vê essa leitura sobre a sua obra?
Madeira é minha matéria prima principal, mas estou sempre disposto a investigar outros materiais como mármore, granito, aço etc.

12 – Como é deflagrado seu processo de criação. Uma imagem, um material, um gesto, uma palavra. O que?
Geralmente, vem com um insight, que coaduna com a matéria, mas pode surgir também com um aforismo popular, uma observação do cotidiano e até mesmo um gesto.

13 – Sua arte caminha na fronteira entre técnicas, por adotarem diferentes maneiras de trabalhar os materiais. Este leque amplo de resultados materializa conceitos presentes em sua pesquisa e em seu trabalho e satisfazem o desejo ou sonho do artista?
As técnicas são usadas para dar vazão às minhas inquietudes, aplicadas de acordo com a matéria usada e suas possibilidades. E a ideia presente satisfaz por um momento até o próximo desafio.

14 – Como sente ou localiza a sua arte neste momento da arte baiana?
Quando estudei no MAM BA, ainda havia discussões entre o moderno e o contemporâneo. Hoje, o artista já “nasce” contemporâneo, estou sempre a conhecer mais a minha “aldeia”.

15 – Situe essa exposição de agora na Paulo Darzé Galeria na sua trajetória e do que ela é constituída. Material? Tema? Quantas obras? Qual o significado dela no seu percurso?
Os materiais são madeiras de reuso, tais como: jacarandá, ipê, vinhático, imbuia, além de outros materiais, como chapa de aço carbono, aço inox, e granito. O tema é um autorretrato diluído em formas e volumes. São treze obras, entre esculturas de parede, objetos e esculturas circulares. A exposição na Paulo Darzé Galeria é a continuidade de minha trajetória e no que acredito.

 

ENTREVISTA p/ Claudius Portugal

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