QUEM SABE SÃO AS ÁGUAS
O que constrói essa cidade são as águas, as relações que afogam e os amores que molham a alma. Nascer num berço frio e encharcado que te abraça com o calor do sol de uma quarta-feira à beira d’água. Eu me enfeito todo dia para ver o mar, o mais democrático dos amores. Sem valores e sem ofensas, apenas bênçãos, que também podem te afogar. Graças a Deus, essa cidade me educou a seguir confiando nas águas e por isso fecho meus olhos ao mergulhar. O escuro não me assusta porque ele sempre me abraçou como uma mãe que me ama. Para ir do inferno ao céu, é preciso passar pelo mar primeiro e também por todos os Santos da Bahia.
Nessas obras tento entender a fisionomia das emoções, como elas performam nas feições e relações das pessoas com o mundo à sua volta, mas precisamente com a Bahia. Tento mapear esse rosto que conheço ainda muito pouco, entender suas nuances e seus desejos, pensar em fisionomia e composição de tela para criar sentimento e cor a partir da paleta em que essa comunidade que se organiza através das águas apresenta para mim. Nesses estudos descubro mais sobre amor e carinho comunidade, como as relações se criam e as pessoas se dispõem a performar esses momentos, o resultado são telas onde os sentimentos se encontram e se perdem no olhar, assim como é observar a curta vida das ondas, imagens que treinam os olhos para as possíveis performances do amor e o constroem também de certa forma, tudo ao mesmo tempo. Quem sabe são as águas.
Bernardo Conceição dos Santos, nascido no ano de 99 antes da lua virar mais um milênio. De Itinga, periferia satélite de Salvador, sempre foi um jovem artista, sempre negou que só existia o que seus olhos conseguiam enxergar. Integrante do acervo de arte moderna da Bahia pelo MAM BA é um artista multidisciplinar e criador da marca de criatividade, arte e moda SEMPREVIVO.