Nascido em Salvador, Bahia, 1973, Anderson Santos é pintor, trabalhando principalmente com o óleo sobre tela, cartão, madeira, e desenhista, utilizando o grafite ou o carvão sobre papel, e destes dois caminhos desenvolvendo pintura e desenho digital no iPad, adaptando a técnica tradicional para esta nova realidade digital, com isto realizando experimentos em vídeo, cartazes e storyboards para cinema.
Graduado em Artes Plásticas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), 1999, expôs nas principais capitais brasileiras. Participou na Itália da Expoarte em Milão, em ocasião da Expo 2015 e da Esposizione Triennale delle Arti Visive em Roma. Possui obras em coleções particulares e fundações no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos.
Foi um dos membros do coletivo internacional responsável pela publicação da revista online Boardilla (http://issuu.com/boardilla), na qual se ocupava da editoração gráfica e curadoria, além de produzir e dirigir artisticamente as exposições de artes visuais da revista. Atualmente é Diretor Artístico de Ripensarte (http://ripensarte.it/) e um dos responsáveis pela publicação da revista online Magazzino (http://magazzino.ripensarte.it/pt/).
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Marcada pela presença humana e de animais, onde a imagem dentro da imagem está sujeita a manchas ou proporções que a distorcem, Anderson Santos produz uma pintura expressiva, ao trazer a figura, em sua angústia e seu cotidiano, a uma posição central, tema logo visível desde o início de suas mostras em 2002, e nas diversas fases, séries, ou no assunto seguinte que elabora tendo como títulos – alegorias, dissonâncias, mulheres.
Há em sua obra várias influências contemporâneas, como ele mesmo diz: “tive um terrível impacto ao ver o trabalho de Francis Bacon, fiquei perplexo como no trabalho dele, a tinta/carne se dissolvia e ainda se podia ver naquilo tudo uma aparência com o objeto representado, como se de repente a figura se tornasse ainda mais viva, ou melhor, mais real. Como numa compulsão tentei me aproximar do universo pictórico de Bacon, como ele também fizera com Velásquez e Picasso. Essa influência, mesmo já estando diluída, pode ser vista até hoje no meu trabalho, principalmente na paleta de cores em que trabalho”.
O figurativo destas obras, em seus tons ou nuance, provoca a tensão entre dois mundos, o instável e o estável, e neles as dissonâncias que trazem um desenho (sua base para o salto é o desenho), aonde absorve temas desde a decrepitude da carne, ou seria do afeto?, ao imprimir uma visão do envelhecimento e da morte, contundente, cáustica, incomodativa em seu retrato real, “nos quais o humano é capaz de contrariar, negar, distorcer, ignorar e até mesmo desencadear uma perda de contato com a realidade estável”, mas que não a torna de inteira realista, pois ao criar cenas apropriadas, não devemos esquecer que seu trabalho elabora uma pintura de composição, e disto, ao acrescentar o tom de suas cores, em variações mínimas, objetiva o quer apresentar.
Se olharmos por outro caminho, temos em Anderson a criação das imagens em movimento, as cenas não são estáticas, este é só um momento de transição entre dois instantes, e onde se encontra um entendimento maior para absorver deste seu mundo o que seria imutável por outro que traz a mobilidade, para com isto superar o caráter de representação, o já nomeado realismo figurativo, tão visível, que de tão visível deixa de ser visto, mas que serve em sua pintura ou desenho para confrontar o espectador diante da superfície, o contraste dos planos, sem deixar, contudo, ver o conteúdo íntimo da imagem, apenas as mudanças que tende ainda a ousar ao nos colocar diante de tal reflexão, principalmente por ele pintar e desenhar não o que vê, mas o que elas acabam despertando em nós. Estamos diante de obras para nos fazer pensar – na arte, na vida.
Claudius Portugal