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Lúcia Suané

Abertura
11 de junho de 2007

Horário
19 às 22h

Exposição
12 de junho a 30 de junho

Lucia Suanê, a partir do dia 11 de junho, até o dia 30 de junho, sob o título “Sertões”, apresenta uma mostra de pinturas, a primeira que realiza na Bahia, composta por dezoito trabalhos, em óleo sobre tela e colagens com fios e placas de alumínio e cobre, alguns utilizando suportes de madeira, em dimensões variadas.
Nascida em Águas Belas, Pernambuco, desde 1946 está radicada em São Paulo, onde começa a pintar na técnica da têmpera. Realiza a primeira individual em 1947. Em 1951 executa um afresco no batistério da Capela do Morumbi, por indicação do Prof. Bardi, e participa da primeira Bienal de São Paulo. Neste mesmo ano ganha o Prêmio do Salão Paulista de Arte Moderna e o Prêmio Aquisição Mário de Andrade. Com várias individuais e coletivas, possui quadros no Museu de Arte de São Paulo – MASP, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, e integra coleções particulares no Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Bélgica, Chile e Checoslováquia.

A LUZ E A MÚSICA DAS ESFERAS

A extensão se aclara até onde a visão alcança, e esta luz branca destaca todos os volumes, como se o mundo mostrasse a sua face e só então o sol aparece por inteiro, senhor bom ou cruel, como queira, desta região. Não há nada igual ao alvorecer no sertão. E, ao final do dia, quando tudo se cobre de amarelos e ocres, antes de ceder o lugar ao manto estrelado da senhora, temos a sensação de que nada mais há a fazer do que quedar e contemplar. Não há nada igual ao crepúsculo do sertão. É este lugar de claros contrastes que habita a memória da pintora lúcia suané e se revela para nós na sua obra delicada e forte, solar e estrelada.
Hoje, as pinturas de suané têm fios de cobre ou de alumínio, dourado e prateado, justapostos em ritmos precisos mas não geométricos, numa alusão visual aos instrumentos musicais, formas perfeitas que permitem ao iniciado obter harmonias. Também a obra de suané tem esta dupla face, fechada e aberta, pois permite ao sensível penetrar na harmonia, mas nada concede aos que não querem perceber. Mais que janus, o deus de dupla face, é um portal inteiramente disponível, desde que o visitante queira realmente entrar.
Em 2005, a pintora apresentou uma série de pinturas com o tema pastoril nordestino, herdado dos autos portugueses, no qual se desenvolve em dança e música a luta do cordão encarnado e do cordão azul. A origem deste tema, o cordão encarnado, é a teatralização do presépio e do nascimento de jesus cristo. Enfrentar em pintura a tarefa de simbolizar, a partir do folclore, o surgimento da criança divina, é tratar do surgimento do universo. No nosso caso, na nossa civilização, este deus menino nomeou a nossa era, mas em todas as épocas e civilizações, o nascimento divino, o desdobramento da essência cósmica, significa o alvorecer do universo e da humanidade.
Lúcia suané nos favoreceu com uma pintura de um requinte cromático altíssimo e de uma personalidade única. Na verdade, na sua pintura o mito da criação se realizava no ato do fazer, pois o artista quando imbuído do verdadeiro objetivo da atividade, trazer ao mundo um ente desconhecido, refaz em si mesmo o mais importante percurso, o mito da criação. Pode ser dito que em suané, como em alguns poucos outros artistas, o nascimento do mundo se dava, novamente, e, paradoxalmente, pela primeira vez. A cada artista, o mito da criação é renovado e o universo nasce novamente. Aqui, a concepção cíclica do universo, com o seu permanente nascimento e morte, é vivida simbólica e concretamente.
Nesta atual série sertões, o fenômeno de criação se repete, acrescido da idéia de que existe uma chave de acesso, um número cabalístico que permite penetrar no portal onde tudo existe num só momento, em que o tempo é imóvel e, portanto, é paisagem, mas que só os sensíveis tem permissão ao vórtice. E a chave, o número cabalístico, não está em nenhuma fórmula ou manual, mas no próprio indivíduo. O olhar é interior e todos podem ver, desde que queiram ver.
Suané recusou-se ao naturalismo, tão comum em nossos dias.
As suas telas não emitem som, não tem motor giratório, nem qualquer engrenagem mecânica. Nela encontramos a forma eterna, capaz de nos permitir escutar a música das esferas, desde que estejamos disponíveis para a felicidade.
Suané, como na sua série anterior, é inovadora, pois utiliza o suporte de maneira livre e não convencional, não o conformando ao retângulo ou ao quadrado da tela, mas estendendo-o em novos suportes de tela, suportes duplos, ou agregando materiais, desde pedaços de telas aos fios de ouro e prata, sempre a serviço da expressão, nome habitual que damos aos elementos de linguagem criados pelos artistas. A luz se mostra e se transforma em manto de pontos luminosos e na noite lunar, temos a sensação de que nada mais há a fazer, senão quedarmos e contemplarmos.

Jacob Klintowitz

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