José Morea nasceu na cidade de Chiva, em Valencia, Espanha, no ano de 1951. Vindo de origem campesina, lugar de vinhas e oliveiras, com uma formação autodidata na sua terra natal, até receber uma bolsa para estudar em Madrid, naquele momento vivendo uma efervescência cultural nas artes e, principalmente, no cinema, com a abertura política. Começa a expor a partir de 1975, e da lá para cá realizou mostras, além da Espanha, na Itália, Estados Unidos, França, Portugal, Suécia, Cuba, Uruguai, Argentina, Chile, Hong Kong. Em 2002 realizou exposição na Bahia, no Museu de Arte Moderna.
A crítica espanhola Luciana Brito escreveu para a mostra na Bahia, com o título “José Morea, pinturas de La Chacara (sombras, luzes e outros deslizes)”, o seguinte texto:
“Artista viajante onde los haya, pleno, hábil e versátil em cerne, é sem dúvida alguma um importante representante da arte contemporânea espanhola, que por meio desta exposição na Paulo Darzé Galeria, vem a revelar a sensibilidade extraordinária de sua desbordante expressividade”.
“Morea vem construindo a sua história artística ingresso nas mais variadas linguagens e técnicas plásticas, uma diversidade, que se faz presente também no ecletismo de suas fontes estilísticas, desvelando a capacidade deste artista em produzir uma obra plenamente inserida nos fenômenos artísticos coetâneos, contudo, traduzindo o valioso contexto sócio-histórico e cultural vivido pelo mesmo tanto em sua terra natal, Espanha, como em diferentes lugares que viajou e trabalhou ao redor do mundo, como o Brasil nestes últimos anos, sendo esta mescla de vivências culturais, precisamente, uma das fundamentais características de sua arte. O título desta exposição nos dá uma mostra de sua volta as origens, de suas vivências”.
“Autodidata, de origem agrícola, apaixonado por tudo que destila a natureza em seu estado mais selvagem possível, e um eterno comprometido com o ideal de equilíbrio ecológico, Morea não tardou em ter seu trabalho reconhecido recebendo da Prefeitura de Valencia, Espanha, e do Ministério de Cultura da França uma bolsa de estudos para residir durante dois anos na Casa de Velásquez em Madrid, e deste modo, rompeu a ordem estabelecida lançando-se a fazer o que acreditava e o que nasceu para fazer: PINTAR. Deixou para trás um mundo grato, familiar e acomodado para lançar-se as sombras e luzes do mundo da arte, que se apresentou cheio de surpresas, monstros e desafios, um mundo que, todavia, está imerso no próprio Morea, e que este artista nele se encontra quase sempre como um peixe na água”.
“Morea a, princípios dos anos oitenta, adentrou em uma Madrid que se assemelhava ao Éden, afinal, depois da morte do General Franco, a capital da Espanha tornou-se um local onde tudo eclodia, onde a liberdade marcava a dinâmica cotidiana, marcava a modernidade dos Almodóvar, da democracia, Morea viveu aquele panorama sociocultural onde tudo parecia ser muito melhor, do modo mais contundente. Mais tarde, este artista submergiu em águas mais turbulentas, as da pintura Barroca Italiana que o levaram a navegar durante mais de dez anos por toda Itália, Roma, Turim e finalmente Sicília. Em seguida, movido por um interesse desaforado pelo oriental foi a países como Turquia, Índia, China, Nepal, Tibet, locais que lhe mantiveram com os olhos bem abertos, criando várias séries que também lhe ocuparam alguns anos. Todos estes percursos estiveram conjugados com estâncias mais ou menos dilatados em sua maravilhosa casa de Chiva-Valência, nas idas e vindas a Argentina, Chile e Uruguai onde realizou várias exposições até finalmente seu desembarque turístico em Salvador, onde segundo me disse o próprio artista ficou “impressionado-alucinado-enamorado”. Viajante e aventureiro não demorou a mudar-se a esta terra abençoada e a realizar suas primeiras pinturas brasileiras, que logo puderam ser vistas na Pinacoteca do Estado em São Paulo, no MAM de Recife e, merecidamente, no MAM daqui de Salvador”.
“Figurativo em essência, Morea apresenta uma obra dotada de sensualidade e misticismos. Através de uma mirada sensível e de largas e potentes pinceladas, Morea apresenta nesta exposição diferentes temáticas, entre elas naturezas-mortas e figuras humanas de seu entorno, que ao mesmo tempo revelam e ocultam mistérios. Carregadas de erotismo e sensibilidade, estas telas são suportes de experiências vividas por este artista na Bahia, local que ele desvela sua multiplicidade artística e cultural de forma enigmática e fascinante, apresentando o dia-a-dia de uma terra farta em mar, em cheiros, em artes, e particularmente em magia”.
“Surpreende-nos ver neste artista de espírito vanguardista e inovador a sua vontade de percorrer novos rumos, de experimentar novas possibilidades. Nesta série de pinturas se faz nítida a autoridade de Morea na utilização dos materiais que ele emprega em sua obra, de natureza humilde e nada pretensiosa, a exemplo de papelão, madeira, tecido, couro, dentre outros materiais que encontra naturalmente, muitas vezes nas ruas e que não desdenha em os utilizar mais além de estreitos convencionalismos, o que lhe permite uma sorte de constantes experimentações, evidenciando outra propriedade singular deste artista, que é a sua constante busca em obter diversificadas possibilidades expressivas de diferentes materiais, algo que não nos estranha, dado seu temperamento espanhol, ao entorno baiano, as suas origens artísticas próximas a uma estética Povera”.
“Este homem plural, por meio desta pequena mostra de sua vasta poética visual nos convida a apreciar uma diversificada concepção plástica dotada de alta qualidade estética, formal e conceitual, e deste modo nos permite compreender um pouco mais sobre o mistério da predestinação de ser um artista, de suar em cores e em formas, nos deliciando com uma obra que nos mostra muito além do que os olhos são capazes de ver”.